Pelo pouco que sei a respeito de blogs e fotologs pessoais, boa parte deles são excelentes meios de exposição de intimidades. São alguns dos meios técnicos, portanto, capazes de realizar uma vontade que foi imposta aos homens contemporâneos: acompanhando os processos concomitantes de privatização da esfera pública e de publicização da esfera privada (e íntima), utilizamos a internet, esse meio de comunicação abarrotado de oportunidades de uso, para revelarmos parte de nossos desejos mais secretos, nossas vontades, nossas angústias - em uma forma desesperada de provar ao mundo "nossa individualidade", nosso valor único. Nós PRECISAMOS disso - em um mundo que destrói todas as instituições coletivas, inclusive a já tão privatizada "família", somos compelidos a desenvolver e demonstrar nossa identidade pessoal - ironicamente, agindo exatamente igual a inúmeros outros "desesperados" - por nossa própria conta e risco. Em suma, enquanto podemos, hoje, nos dar ao luxo de rejeitarmos sermos definidos por sujeitos externos a nós mesmos, como nossos pais, em contrapartida perdemos qualquer referência fixa de autodefinição. Os blogs surgem, aqui, como uma dessas opções de autodefinição - via a publicização daquilo, afinal, que temos de mais individual: nossa intimidade.
Dito isso, minha tentativa, aqui, não deixará de reproduzir tal função social do Blog - função de individualização, criação e desenvolvimento de identidades e decorrente socialização. É claro que eu também tenho a necessidade de "me conhecer", e acredito que a escrita seja um bom meio para eu reencontrar um pedaço da minha identidade que se encontra atualmente perdida. Mas tentarei escapar da lógica da "exposição da intimidade" no sentido conferido até aqui. Não estou interessado, necessariamente, em narrar como foi meu dia, como era o pão com manteiga da padaria da esquina, como sou infeliz ou como minha vida não tem nenhum propósito.
Se procurarei praticar minha identidade, será por meio de minhas opiniões sobre acontecimentos reais; sobre o que eu vivenciei durante o dia, as notícias que me afetaram, os filmes que me abalaram, e que trazem à tona questões que acho a pena desenvolver. Que trazem REFLEXÕES - sobre política, sobre sociedade, ou até mesmo sobre meu ponto fraco, o artístico. Não é a vontade de exposição de meu COMPORTAMENTO íntimo que me orienta, mas antes a necessidade de um espaço em que possa desenvolver minha opinião crítica - sem que absolutamente ninguém deva concordar comigo. Enfim, sou orientado pelo puro desejo de aplicação da diversidade de pensamento, de AÇÃO. Este será, enfim, o espaço reservado para eu mostrar ao mundo - por menor que seja esse "mundo" que irei atingir, e acredito que não é isso que importa - que sou diferente não porque sou mais ou menos triste, não porque gosto disso ou daquilo, ou me visto de forma "x" ou "y" - mais porque ajo e penso de forma determinada, sem ser mero reprodutor das opiniões alheias.
Isso não quer dizer, em absoluto, que sou dono da razão - não tenho essa pretensão, e acho que o mundo está ferrado, em grande parte, por muitos agirem dessa forma. Mas é justamente o fato de o meu entorno social estar cercado de pessoas que vêem suas (suas?) opiniões como absolutas que me obriga a buscar um espaço virtual onde estar "certo" ou "errado", simplesmente, não importam sob a ótica maior da possibilidade de exposição daquilo que seria mais próximo do que REALMENTE se pensa, sem moldagem, sem adaptações absolutas às vontades de outrens. O que não sigifica, também, que estou isento de manipulações; nenhum de nós está, de forma absoluta, "agindo por conta própria", como sabe todo sociólogo que se preza. Mas poucos são os que mastigam aquilo que ingerem, sem serem meros reprodutores de opiniões fechadas da mídia ou de outros agentes sociais.
Por fim, como já disse que não estou agindo por absoluta conta e risco, devo mencionar que não pensaria o que penso e não escreveria o que escrevi acima se não fossem algumas contribuições específicas de leitura: "A condição humana", de Hannah Arendt; "Individualização", de Ulrich Beck; e "O declínio do Homem Público", de Richard Sennett foram as mais relevantes para essa reflexão (embora tenha lido essas obras há um tempo razoável).
Dito isso, minha tentativa, aqui, não deixará de reproduzir tal função social do Blog - função de individualização, criação e desenvolvimento de identidades e decorrente socialização. É claro que eu também tenho a necessidade de "me conhecer", e acredito que a escrita seja um bom meio para eu reencontrar um pedaço da minha identidade que se encontra atualmente perdida. Mas tentarei escapar da lógica da "exposição da intimidade" no sentido conferido até aqui. Não estou interessado, necessariamente, em narrar como foi meu dia, como era o pão com manteiga da padaria da esquina, como sou infeliz ou como minha vida não tem nenhum propósito.
Se procurarei praticar minha identidade, será por meio de minhas opiniões sobre acontecimentos reais; sobre o que eu vivenciei durante o dia, as notícias que me afetaram, os filmes que me abalaram, e que trazem à tona questões que acho a pena desenvolver. Que trazem REFLEXÕES - sobre política, sobre sociedade, ou até mesmo sobre meu ponto fraco, o artístico. Não é a vontade de exposição de meu COMPORTAMENTO íntimo que me orienta, mas antes a necessidade de um espaço em que possa desenvolver minha opinião crítica - sem que absolutamente ninguém deva concordar comigo. Enfim, sou orientado pelo puro desejo de aplicação da diversidade de pensamento, de AÇÃO. Este será, enfim, o espaço reservado para eu mostrar ao mundo - por menor que seja esse "mundo" que irei atingir, e acredito que não é isso que importa - que sou diferente não porque sou mais ou menos triste, não porque gosto disso ou daquilo, ou me visto de forma "x" ou "y" - mais porque ajo e penso de forma determinada, sem ser mero reprodutor das opiniões alheias.
Isso não quer dizer, em absoluto, que sou dono da razão - não tenho essa pretensão, e acho que o mundo está ferrado, em grande parte, por muitos agirem dessa forma. Mas é justamente o fato de o meu entorno social estar cercado de pessoas que vêem suas (suas?) opiniões como absolutas que me obriga a buscar um espaço virtual onde estar "certo" ou "errado", simplesmente, não importam sob a ótica maior da possibilidade de exposição daquilo que seria mais próximo do que REALMENTE se pensa, sem moldagem, sem adaptações absolutas às vontades de outrens. O que não sigifica, também, que estou isento de manipulações; nenhum de nós está, de forma absoluta, "agindo por conta própria", como sabe todo sociólogo que se preza. Mas poucos são os que mastigam aquilo que ingerem, sem serem meros reprodutores de opiniões fechadas da mídia ou de outros agentes sociais.
Por fim, como já disse que não estou agindo por absoluta conta e risco, devo mencionar que não pensaria o que penso e não escreveria o que escrevi acima se não fossem algumas contribuições específicas de leitura: "A condição humana", de Hannah Arendt; "Individualização", de Ulrich Beck; e "O declínio do Homem Público", de Richard Sennett foram as mais relevantes para essa reflexão (embora tenha lido essas obras há um tempo razoável).
Imagem: Peter McLane
Pedro Mancini
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