segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A vitória de Kassab - aspectos "racionais" das eleições municipais





A vitória de Gilberto Kassab nas eleições municipais de São Paulo, no último domingo, pode ser analisada por duas vias distintas: 1) pressupondo a existência de motivos racionais (mesmo que, muitas vezes, camuflado) dos eleitores, vinculados à defesa mais ou menos consciente de seus interesses classistas mais imediatos; ou, por outra linha, 2) valorizando-se os aspectos mais irracionais que levaram à escolha, pelos eleitores, do candidato do DEM.

A primeira abordagem estaria mais próxima da interpretação marxista da realidade. Uma vez que, como sabido, a classe média detém uma enorme força política em São Paulo, a competência mais elevada de Kassab em representar seus interesses, econômicos e políticos, viabilizou sua vitória eleitoral.

O recente episódio da cartinha de despejo de Kassab, explorado por Marta no detabe da Globo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u460064.shtml), além de outras medidas tomadas pela gestão atual, indicam que ele não era o candidato mais adequado para combater as desigualdades sociais, tão presentes em nossa realidade, e a atender os interesses da população mais desfavorecida. Independentemente da qualidade puramente administrativa de seu governo, o prefeito priorizou, com efeito, a defesa de interesses específicos de classe - não, de forma tão clara, os interesses mais amplo da cidade, pensada enquanto conjunto estruturado.

Isso pode ser constatado estabelecendo-se um paralelo entre as políticas públicas que implantou pensando nas classes menos favorecidas, copiadas e apropriadas das propostas de Marta (como o Céu e os benefícios do Bilhete Único), e aquelas medidas que, de fato, foram novidade: a Lei Cidade-Limpa, por exemplo, e a boa idéia da Virada Cultural.

Foram medidas, de fato, bem pensadas e aplicadas de forma competende - valorizando-se o aspecto cultural e turístico da cidade; mas, convenhamos, não foram medidas voltadas ao combate à pobreza ou à desigualdade, tão gritantes em nossa sociedade. A construção de muros segregadores de favelas e a já referida "cartinha do despejo", assim como a ordem de pintar viadutos grafitados, também mostram a quem - e de que forma - o prefeito, fundamentalmente, serve. Tem preoupações claras com a limpeza da cidade (inclusive com uma contestável "higienização social", focando-se na segregação das favelas e na expulsão de famílias), e com a valorização da perspectiva de vida típica dos setores elitizados da sociedade paulistana.

Tais espécias de ação, somadas à continuidade de políticas públicas pensadas por Marta, podem ajudar a refletir sobre a eleição de Kassab, de acordo com a primeira perspectiva apresentada. Os eleitores das classes média e alta votaram pois sabia que, de fato, ele defendia SEUS interesses - e não da cidade como um todo, como transpareceu em sua propaganda. Seria, assim, um voto "racional", ao menos relativamente.

Por outro lado, ao aplicar e aprimorar as mesmas políticas públicas de Marta, Kassab conseguiu "roubar" boa parte do eleitorado em potencial de sua rival; o novo queridinho do DEM posou de "defensor dos Céus e do Bilhete Único", chegando a tentar descolar a imagem de seus reais criadores desses produtos políticos. E conseguiu, em boa medida.

Assim, Kassab somou o apoio massivo das classes média e alta, defensoras egoístas de seus próprios interesses, à parcela da população beneficiada, por exemplo, pelos Céus, inicialmente pensados pela petista.

Mesmo quando se avalia a eleição pela segunda abordagem inicialmente apontada (a "irracional"), contudo, o aspecto classista destas eleições não pode ser deixado de lado. De fato, acredito que Kassab tenha conseguido desenvolver uma imagem simbólica que cativou, principalmente, a poderosa classe média paulista - cujo modo de pensar, predominante, costuma ser decisivo nas eleições municipais. A imagem meticulosamente forjada e manipulada do prefeito eleito, desde seus gestos mais simples, seu modo de vestir e seu jeitinho de falar exibidos no horário eleitoral, conseguiu travestí-lo como representante simbólico legítimo de determinadas classes sociais.


Pedro Mancini


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