Ufa! Está difícil acompanhar os acontecimentos mais recentes nesse blog... ainda mais com o surgimento do "caso Eloá", que a tudo obscurece.
Mesmo também sendo suplantadas por acontecimentos mais recentes, gostaria de discutir brevemente as infelizes delcarações, proferidas por José Serra, a respeito do protesto dos policiais civis durante a semana passada.
Aí vai o "link" com a reportagem a respeito dessas declarações:
Culpando o PT e o PDT pela manifestação dos policiais civis que resultou em um conflito pesado entre as corporações policiais do Estado, Serra associou a passeata a uma "politização" do movimento. Ora, todo movimento por melhores salários e condições de trabalho, suas manifestções, passeatas e movimentos de greve, são políticos por natureza!!! Como pode o governador, que já foi militante em sua juventude política, desconsiderar esse fato tão primordial?
A associação do movimento grevista com a CUT do PT e a Força Sindical do PDT também não deveria ser nenhuma novidade. O relacionamento entre movimentos políticos de categorias profissionais e partidos políticos é clássico e previsível, e não descaracteriza uma ação coletiva como a proferida pela polícia civil, mobilizada em torno de seus interesses de classe.
Demostrando uma má-fé impressionante, o governador tenta deslegitimar o movimento por meio do ataque a suas influências partidárias e seus componentes individuais. É claro que, dentro de qualquer ação política, existem interesses diversos envolvidos; e, em meio aos componentes do grupo em questão, haverá sempre indivíduos com motivações distintas daquelas tomadas pelo movimento como um todo. Isso não significa, no entanto, que as razões de ser de tal movimento deixaram de existir. Como outra reportagem da FolhaOnline apontou (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u457377.shtml), a greve dos policiais têm razões legítimas de ser. Não deve ser explicado, portanto, por mera manipulação eleitoral, desprovida de um sentido real.
O mesmo ataque é realizado, com certa constância, contra militantes de movimentos organizados como o MST. Ora, é claro que dentro de tal grupo existem vários subgrupos com interesses questionáveis (por exemplo, pelo enriquecimento pessoal, por meio da venda de propriedades rurais invadidas); isso não esconde o fato, contudo, de o movimento ainda possuir razões de existência e legitimidade: é inegável que uma grande reforma agrária deveria ser feita em nosso país, e que a mesma teria o potencial de beneficiar milhões de brasileiros. E é a falta de tal reforma que possibilita a existência de movimentos que a defendam e exijam uma atitude do poder público.
Entramos, ao discutir esse assunto, na velha questão que costumo expor no blog: a exploração da "intimidade" e do "comportamento" das pessoas e dos movimentos coletivos, ao invés do julgamento de suas ações em si e de suas motivações, das condições de sua existência. Culpam os movimentos pelo comportamento de parte de seus componentes, desviando, com isso, a atenção sobre as justificativas desse movimento, de suas condições de origem.
Pode, sim, ter havido manipulação eleitoral do movimento dos policiais grevistas; isso não deve ser usado, contudo, para atacar a validade desse movimento. Os policiais civis, de fato, continuam ganhando mal e tendo sua profissão desvalorizada, independentemente do quanto tenham sido "manipulados" por interesses diretamente vinculados às eleições (interesses também naturais nas diputas políticas, já que as eleições são uma de suas principais expressões).
Obs: Não faço, aqui, a discussão a respeito do conflito em si, que ocorreu às portas do Palácio do governador; mas quero deixar claro que, embora defenda as razões de existência do movimento grevista, ele conseguiu se excerder ainda mais que os policiais militares - que, embora também tenham extrapolado os limites da razão pelo uso de violência desnecessária, ao menos tinham a desculpa (insuficiente, mesmo assim) de estarem agindo por ordem (irresponsável) do governador, e não pela defesa de seus próprios interesses classistas.
Pedro Mancini
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