sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Minhas experiências no Carnval 2010 - Parte I

Carnaval. Taí uma época em que me sinto totalmente deslocado - e sei que estou longe de ser o único. Com base nesse deslocamento que sinto, discutirei, nas próximas duas postagens, sobre minhas últimas aventuras nesse feriado surpreendentemente animado.

Iniciarei comentando sobre os desfiles das Escolas de Samba. Ao contrário de tempos da minha adolescência, em que só prestava atenção à distribuição de notas às escolas (devido a minha obsessão por números, talvez), nesse ano me forcei a prestar atenção a pelo menos alguns desfiles, do começo ao fim. Admito que fiquei surpreso com o grau de tecnologia e criatividade empregada em algumas alas e em carros alegóricos, mas o que mais me chamou a atenção foi o conjunto de fatores que me fez concluir que a análise de desfiles carnavalescos não compete a principiantes.

Não achei, por exemplo, o desfile da escola campeã do Rio, a Unidos da Tijuca, tão impressionante assim. Não entendi o sentido de uma ala inteira de super-heróis da Marvel e da DC Comics em meio ao carnaval brasileiro, e achei o carro alegórico que imitava um pavão bem fraquinho, assim como a ala dos mafiosos (com a idéia mais que batida dos "soldados da paz"). É claro que a escola também teve pontos muito fortes, incontestáveis: a criatividade e improvisação da comissão de frente, com seu ilusionismo, e carros alegóricos muito bem feitos, como aquele que simulava o incêndio da Biblioteca de Alexandria. Mas, para mim, esses pontos não necessariamente levariam a escola à vitória, dado os fatores que considerei negativos.


O pior é que, dentre as poucas escolas que acompanhei, aquela que achei mais interessante foi simplesmente a ÚLTIMA colocada!!! Prova final de minha absoluta ignorância carnavalesca. A Viradouro, com uma temática dedicada ao México, me surpreendeu ao discutir a trajetória da pintora Frida Kahlo, comunista e amante do intelectual e revolucionário russo Leon Trotsky, durante o exílio desse último. Para mim, foi interessantíssimo assistir um ator representar o próprio Trotsky em pleno Carnaval! A discussão trazida pela letra era de alto nível, e a Comissão de Frente soube representar com sucesso e beleza a biografia de Frida.

É claro que minha avaliação é parcial, pois o tema abordado se relaciona diretamente com meus interesses pessoais, culturais e intelectuais. Mas bem que seria bom escutar, com freqüência maior, sambas-enredo mais profundos, trazendo informações culturais mais densas. Assim, quem sabe, poderia me interessar mais pelos desfiles - apesar de seu profundo caráter mercadológico e midiático (representado, por exemplo, pelo enfoque direto, por parte da cobertura da Globo, numa tela voltada unicamente à propaganda, em especial a que exibia os três azulados da Tim). Mas o fato de a Viradouro ter ido tão mal a ponto de ser rebaixada do grupo principal não traz muitas esperanças a esse respeito...

Teria sido essa escola ousada demais em sua temática? Ou teria tão somente falhado em representar, técnica e formalmente, o tema escolhido? Fico na dúvida, como ignorante que sou no que se refere a conhecimentos carnavalescos.

Pedro Mancini   

Um comentário:

Luiz "o Mediano" disse...

Como toda cultura popular, e quando me refiro a popular, me refiro à cultura das pessoas ignorantes, incluindo nessa classificação muitos empresários, estrangeiros cheios da grana e universitários, além é claro da classe mérdia e a já esperada plebe de baixa renda.
Como vc disse, é midiático(tá, admito que não sei o que quer dizer hehehe)as pessoas são nitidamente influenciadas pelos comentários incessantes dos apresentadores. Além disso, escola vencedora leva uma simples receita de sucesso, visualmente tem de deixar o espectador de queixo caído, mesmo que seja pelo maior número de par de peitos siliconados e no samba enredo, deve ter uma rima simples, de fácil memorização, de frequente repetição e desprovida de sentido, como um canto tribal, sito como exemplo o que deu a vitória para a Gaviões há alguns anos: "Me dê a mão..." já lembrou não é verdade?
Resumindo, fornecer cultura a esta "cultura" popular é inutil, se fosse possível, as olimpídas de matemática entre as escolas teria mais cobertura que BBB10... o déis veim depois de kal numeru mesmo?