terça-feira, 10 de agosto de 2010

Twitter e o tribalismo político

A contaminação do Twitter pela campanha eleitoral têm demonstrado que a consolidação da Internet enquanto um espaço de relacionamento e intercâmbio deperspectivas heterogêneas (com fins de obtenção de consensos e comuns-acordos) ainda não se cumpriu. 

Não há mais dúvida de que a Internet se fundamentou como um instrumento global de comunicação e difusão de informação, a ponto de os políticos e celebridades não poderem se dar ao luxo de ignorá-la - devendo apropriar-se de seus mecanismos o máximo  que puderem. Assim, candidatos com contas no Twitter brotaram às centenas, espalhando suas convicções político-ideológicas aos quatro ventos. Aqueles que não aderirem integralmente ao universo virtual, correm sérios riscos de povoarem a marginalidade do imaginário popular.

A despeito da ocupação da Internet por gente de todo tipo - desde o mais comum dos mortais até a mais idolatrada celebridade contemporânea  -, o que vemos não é tanto um gigantesco intercâmbio entre convicções plurais, rumo a um elevado debate, em que todos põe à prova suas idéias, arriscando-se a rever seus preconceitos no contato com o diferente. Muito pelo contrário, a  rede mundial de computadores - e, em especial, o Twitter - parece refletir a fragmentação do social entre inúmeros grupelhos de opinião, muito pouco dispostos ao diálogo com o Outro. 

Os movimentos de "seguidores" que acompanho no Twitter embasam essa visão. Em geral, não estamos interessados em seguir aqueles com os quais não concordamos; as opiniões que expressam no Twitter só servem para nos irritar, quando expostas em nossa tela inicial. Se seguimos adversários, é pelo único prazer de poder atacá-lo verbalmente, agredí-lo e ridiculariza-lo perante todo o público virtual. que acompanhar a discussão. Trata-se, em verdade, de uma verdadeira guerra de idéias entre variadas facções que maios esbravejam que conversam. Serristas não seguem dilmistas, a não ser para ofendê-los, e vice-versa. Todos fecham-se em suas "tribos" ideológicas. 

A questão da exposição de idéias políticas não se restringe aos políticos profissionais. As celebridades devem ficar especialmente atentas a isso, caso queiram seguir a lógica quantitativa das redes sociais, que mede a popularidade pelo número objetivo de seguidores ( quanto mais, melhor). A exposição, por menor que seja, do favorecimento a um ou outro candidato ou corrente política pode gerar uma verdadeira debandada de seguidores, além de lotar a tela do artista em questão de xingamentos, agressões e questionamentos mil. daqueles que dele discordarem. Um posicionamento político-eleitoral precipitado, e um famoso qualquer pode limitar sua lista de seguidores aos adeptos de uma determinada posição - afinal, tcomo quis argumentar, tendemos a seguir somente nossos "iguais".

É claro que muitas celebridades - em geral, as maiores - conseguem se livrar desses particularismos. Além de evitarem ao máximo o "escape" de suas preferências político-partidárias, sua imagem parece plainar acima de qualquer crítica política. Nomes de celebridades mais conhecidas e idolatradas são blindados por uma espécie de aura mágica, e, ao invés de se tornarem escravos de seus seguidores virtuais, convertem-se em seus mestres: uma mera insinuação de um artista mega-pop pode dobrar a opinião pessoal de milhares de fãs-seguidores. 

Os maiores prejudicados pelos tribalismos político-ideológicos da internet são, assim, as celebridades menores, tal qual as "subcelebridades"; essas, desesperadas  pelas "migalhas" de seguidores do Twitter que as celebridades maiores espalham pelo enorme solo virtual, não têm uma imagem tão forte para se darem ao luxo de tomarem uma posição. Caso o façam, correm o sério risco de empacarem no arrebanhamento de seguidores, mantendo apenas os adeptos que com eles concordem. E nenhum pretendente a celebridade "universal" que se preza evita manter uma certa névoa de ambiguidade e neutralidade sobre si, ao firmar os pés de um lado determinado do espectro político. Uma neutralidade, embora sempre falsa e hipócrita, é a fóruma mais fácil para um artista manter sua rede de adeptos.

Regina Duarte, após proferir todo o seu "pavor" com relação ao vindouro Governo Lula, em 2002, converteu-se em um exemplo do que digo: Praticamente evaporou dos holofotes. Para relembrar:





A vítima da vez parece ser outra senhora global, a Maitê Proença - que já criou em uma verdadeira saia justa em um programa de mesmo nome, ofendendo os portugueses -, após atribuir ao machismo brasileiro a missão de "salvar" o povo brasileiro da candidata Dilma Roussef. Ela e Regina, com seus radicalismos tacanhos e patéticos, baseados em sentimentos rudimentares e absolutamente preconceituosos como - o medo e o ódio-, isolam-se muito mais do que aqueles que dão indicações mais discretas sobre seu posicionamento político-eleitoral (figuras como os integrantes do CQC, que ainda conseguem um sucesso relativo na tentativa de parecerem "neutros"). Vamos ver o que sobrará da já abalada imagem de Proença depois de mais essa declaração desastrosa, dada em entrevista ao Estado de São Paulo... Confiram:


O feminismo já era ou a mulher ainda precisa lutar contra as discriminações da sociedade?
A mulher ainda é tratada como escrava na África, Ásia, países árabes, na maior parte do planeta. Só no ocidente houve progressos, muitos, mas ainda há discriminação. Quem sabe a própria venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma?

É claro que não são apenas os opositores do Governo Federal que têm sua imagem abalada após revelarem seu posicionamento político. Amantes do Governo Lula e do PT também sofrem, e muito. Entre alguns casos dessa espécie, cito as críticas sofridas pelo grupo O Teatro Mágico, que declarou apoio à candidatura Dilma, e o isolamento a que o jornalista Paulo Henrique Amorim se submeteu ao declarar uma guerra aberta contra os tucanos - assim como inúmeros outros jornalistas e blogueiros, que passaram a ser perseguidos, por exemplo, pela Revista Veja e outros órgãos graças ao seu posicionamento. Aliás, a própria Revista Veja, dado seu viés gritante, também se tornou um órgão de comunicação isolado, restrito à masturbação ideológica da velha classe média e  aos consultórios médicos e odontológicos.

Em resumo, há um preço alto a pagar pela violação da aparência de neutralidade, e isso se torna ainda mais visível e verdadeiro em redes sociais como o Twitter.


Pedro Mancini

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