quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A lógica natalina e o desperdício de recursos




Dias atrás, li um comentário interessante no Twitter. Um tal Pedro Nogueira pregava que destruíssemos as luzes de enfeite de Natal espalhadas pelas ruas, em prol da economia de energia elétrica.

Esse comentário me fez pensar: embora exista uma preocupação generalizada com os riscos ambientais e com as possibilidades de evitá-los, inclusive pela economia de recursos - campanha amplamente difundida pela mídia -, ninguém toca no assunto quando se trata do Natal e de seus gastos, que não devem ser poucos, com iluminações e outros enfeites.

Isso demonstra, claramente, que a lógica racional não é absoluta em nossa sociedade, sendo apenas um dos aspectos de nossa cultura que, em determinados momentos, pode ser sobrepujado por outra lógica simbólica.

Assim, ao contrário da imagem que vende, a sociedade contemporânea não opera, exclusivamente, segundo a lógica racional. A questão de poupar recursos para permitir um desenvolvimento sustentável do planeta é culturalmente criada em meio a uma reflexividade típica da modernidade (para utilizar terminologia de autores como Anthony Giddens e Ulrich Beck), e, portanto, é facilmente distorcida e interpretada de acordo com o contexto e a convivência com outras perspectivas culturais igualmente presentes.

No caso, é óbvio que toda a "magia do Natal" sobrepuja a lógica reflexiva da limitação do desperdício de recursos: Por mais que sejam disseminadas várias recomendações de conduta e de adquisição de produtos com fim de evitar quaisquer gastos desnecessários de recursos terrestres (como a recomendação de uso de lâmpadas fluorescentes que economizam energia ), no Natal toda a sociedade se cala diante da iluminação de inúmeros prédios, casas e árvores - que brilham incessantemente durante toda a madrugada.

Não discutirei, aqui, os possíveis motivos para a lógica do desperdício natalino sobrepujar a lógica
ecológica - acho, para encurtar muito a análise, que esse poder está vinculado, justamente, ao sentimento de "re-encantamento" que o Natal traz, caracterizando-se como um escape mágico ao desencantamento do mundo ordinário do resto do ano.

De todo modo, espero que as previsões científicas de cunho pessimista, que avaliam o futuro próximo do planeta como nebuloso, estejam incorretas. Pois, se o futuro da Humanidade depender do grau de sacrifício que estamos dispostos a fazer para evitar um cataclisma ecológico devastador, estamos realmente condenados.

Pedro Mancini

2 comentários:

Luiz "o Mediano" disse...

Vc só errou ao dizer que a lâmpada incandescente economiza energia, é justamente a que mais gasta. A lâmpada que economiza é a fluorescente.
A justificativa para as lâmpadas de natal ficarem acesas a noite toda é simples... o horário de verão economiza energia, logo o consumo segue estável o ano todo! (Espero que tenha dado pra entender que foi um comentário irônico)

Unknown disse...

Erro técnico de um total leigo no assunto... já corrigido, valeu pelo toque!!