terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pequena ressalva - Datena X Abrão

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Gostaria de fazer um pequeno comentário a respeito do embate, analisado dias atrás, entre representantes da mídia durante a cobertura do caso Eloá.

Em uma postagem anterior, indiquei que a briga se deu entre Datena e Abrão. Contudo, assistindo o programa do primeiro dias desses, percebi que as críticas proferidas referiam-se, em maior medida, à cobertura da Record sobre o incidente.

De fato, essa emissora, assim como a de Abrão, realizou entrevistas com Lindemberg, o ex-namorado de Eloá ainda durante o cativeiro, mas não parou por aí: conseguiu, misteriosamente, adentrar o presídio em que Lindemberg foi confinado após o desfecho do caso, obtendo, em primeira mão, uma "entrevista" com o próprio autor do crime. A emissora, ao tomar essa espécie de atitude jornalística, em seu desespero por superção da audiência da Rede Globo, mandou a ética às favas, de forma tão ou mais forte do que Abrão. Suas intervenções jornalísticas poderiam inclusive ser interpretadas como obstáculos aos procedimentos policiais na situação do cativeiro.

Um agravamente para a atuação da emissora do bispo Edir Macedo é a insistência pela busca de uma imagem "séria", preocupação estética importada, também, da Globo. Ao contrário de canais como o SBT e a Rede Tv, que admitem e cultivam sua imagem brega e sensacionalista, a Record tenta camuflar esse caráter, próprio de sua atuação real. Demostrando seu caráter hipócrita, essa rede age de forma extremamente sensacionalista buscando, em paralelo, manter uma imagem exterior de seriedade e ética absolutos.

Embora Datena continue sendo uma figura deplorável do jornalismo brasileiro, como muitas outras, nesse episódio ele ganhou alguns pontinhos, em minha opinião: demonstrando certa coragem (estimulada, é claro, pelos interesses próprios de seu programa e sua emissora), o gordinho enfrentou seus rivais sensacionalistas convocando até a Justiça à puní-los criminalmente pela atuação deplorável no caso Eloá.



Pedro Mancini

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A vitória de Kassab - aspectos "racionais" das eleições municipais

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A vitória de Gilberto Kassab nas eleições municipais de São Paulo, no último domingo, pode ser analisada por duas vias distintas: 1) pressupondo a existência de motivos racionais (mesmo que, muitas vezes, camuflado) dos eleitores, vinculados à defesa mais ou menos consciente de seus interesses classistas mais imediatos; ou, por outra linha, 2) valorizando-se os aspectos mais irracionais que levaram à escolha, pelos eleitores, do candidato do DEM.

A primeira abordagem estaria mais próxima da interpretação marxista da realidade. Uma vez que, como sabido, a classe média detém uma enorme força política em São Paulo, a competência mais elevada de Kassab em representar seus interesses, econômicos e políticos, viabilizou sua vitória eleitoral.

O recente episódio da cartinha de despejo de Kassab, explorado por Marta no detabe da Globo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u460064.shtml), além de outras medidas tomadas pela gestão atual, indicam que ele não era o candidato mais adequado para combater as desigualdades sociais, tão presentes em nossa realidade, e a atender os interesses da população mais desfavorecida. Independentemente da qualidade puramente administrativa de seu governo, o prefeito priorizou, com efeito, a defesa de interesses específicos de classe - não, de forma tão clara, os interesses mais amplo da cidade, pensada enquanto conjunto estruturado.

Isso pode ser constatado estabelecendo-se um paralelo entre as políticas públicas que implantou pensando nas classes menos favorecidas, copiadas e apropriadas das propostas de Marta (como o Céu e os benefícios do Bilhete Único), e aquelas medidas que, de fato, foram novidade: a Lei Cidade-Limpa, por exemplo, e a boa idéia da Virada Cultural.

Foram medidas, de fato, bem pensadas e aplicadas de forma competende - valorizando-se o aspecto cultural e turístico da cidade; mas, convenhamos, não foram medidas voltadas ao combate à pobreza ou à desigualdade, tão gritantes em nossa sociedade. A construção de muros segregadores de favelas e a já referida "cartinha do despejo", assim como a ordem de pintar viadutos grafitados, também mostram a quem - e de que forma - o prefeito, fundamentalmente, serve. Tem preoupações claras com a limpeza da cidade (inclusive com uma contestável "higienização social", focando-se na segregação das favelas e na expulsão de famílias), e com a valorização da perspectiva de vida típica dos setores elitizados da sociedade paulistana.

Tais espécias de ação, somadas à continuidade de políticas públicas pensadas por Marta, podem ajudar a refletir sobre a eleição de Kassab, de acordo com a primeira perspectiva apresentada. Os eleitores das classes média e alta votaram pois sabia que, de fato, ele defendia SEUS interesses - e não da cidade como um todo, como transpareceu em sua propaganda. Seria, assim, um voto "racional", ao menos relativamente.

Por outro lado, ao aplicar e aprimorar as mesmas políticas públicas de Marta, Kassab conseguiu "roubar" boa parte do eleitorado em potencial de sua rival; o novo queridinho do DEM posou de "defensor dos Céus e do Bilhete Único", chegando a tentar descolar a imagem de seus reais criadores desses produtos políticos. E conseguiu, em boa medida.

Assim, Kassab somou o apoio massivo das classes média e alta, defensoras egoístas de seus próprios interesses, à parcela da população beneficiada, por exemplo, pelos Céus, inicialmente pensados pela petista.

Mesmo quando se avalia a eleição pela segunda abordagem inicialmente apontada (a "irracional"), contudo, o aspecto classista destas eleições não pode ser deixado de lado. De fato, acredito que Kassab tenha conseguido desenvolver uma imagem simbólica que cativou, principalmente, a poderosa classe média paulista - cujo modo de pensar, predominante, costuma ser decisivo nas eleições municipais. A imagem meticulosamente forjada e manipulada do prefeito eleito, desde seus gestos mais simples, seu modo de vestir e seu jeitinho de falar exibidos no horário eleitoral, conseguiu travestí-lo como representante simbólico legítimo de determinadas classes sociais.


Pedro Mancini


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bobagens proferidas por um governador

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Ufa! Está difícil acompanhar os acontecimentos mais recentes nesse blog... ainda mais com o surgimento do "caso Eloá", que a tudo obscurece.

Mesmo também sendo suplantadas por acontecimentos mais recentes, gostaria de discutir brevemente as infelizes delcarações, proferidas por José Serra, a respeito do protesto dos policiais civis durante a semana passada.

Aí vai o "link" com a reportagem a respeito dessas declarações:

Culpando o PT e o PDT pela manifestação dos policiais civis que resultou em um conflito pesado entre as corporações policiais do Estado, Serra associou a passeata a uma "politização" do movimento. Ora, todo movimento por melhores salários e condições de trabalho, suas manifestções, passeatas e movimentos de greve, são políticos por natureza!!! Como pode o governador, que já foi militante em sua juventude política, desconsiderar esse fato tão primordial?

A associação do movimento grevista com a CUT do PT e a Força Sindical do PDT também não deveria ser nenhuma novidade. O relacionamento entre movimentos políticos de categorias profissionais e partidos políticos é clássico e previsível, e não descaracteriza uma ação coletiva como a proferida pela polícia civil, mobilizada em torno de seus interesses de classe.

Demostrando uma má-fé impressionante, o governador tenta deslegitimar o movimento por meio do ataque a suas influências partidárias e seus componentes individuais. É claro que, dentro de qualquer ação política, existem interesses diversos envolvidos; e, em meio aos componentes do grupo em questão, haverá sempre indivíduos com motivações distintas daquelas tomadas pelo movimento como um todo. Isso não significa, no entanto, que as razões de ser de tal movimento deixaram de existir. Como outra reportagem da FolhaOnline apontou (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u457377.shtml), a greve dos policiais têm razões legítimas de ser. Não deve ser explicado, portanto, por mera manipulação eleitoral, desprovida de um sentido real.

O mesmo ataque é realizado, com certa constância, contra militantes de movimentos organizados como o MST. Ora, é claro que dentro de tal grupo existem vários subgrupos com interesses questionáveis (por exemplo, pelo enriquecimento pessoal, por meio da venda de propriedades rurais invadidas); isso não esconde o fato, contudo, de o movimento ainda possuir razões de existência e legitimidade: é inegável que uma grande reforma agrária deveria ser feita em nosso país, e que a mesma teria o potencial de beneficiar milhões de brasileiros. E é a falta de tal reforma que possibilita a existência de movimentos que a defendam e exijam uma atitude do poder público.

Entramos, ao discutir esse assunto, na velha questão que costumo expor no blog: a exploração da "intimidade" e do "comportamento" das pessoas e dos movimentos coletivos, ao invés do julgamento de suas ações em si e de suas motivações, das condições de sua existência. Culpam os movimentos pelo comportamento de parte de seus componentes, desviando, com isso, a atenção sobre as justificativas desse movimento, de suas condições de origem.

Pode, sim, ter havido manipulação eleitoral do movimento dos policiais grevistas; isso não deve ser usado, contudo, para atacar a validade desse movimento. Os policiais civis, de fato, continuam ganhando mal e tendo sua profissão desvalorizada, independentemente do quanto tenham sido "manipulados" por interesses diretamente vinculados às eleições (interesses também naturais nas diputas políticas, já que as eleições são uma de suas principais expressões).

Obs: Não faço, aqui, a discussão a respeito do conflito em si, que ocorreu às portas do Palácio do governador; mas quero deixar claro que, embora defenda as razões de existência do movimento grevista, ele conseguiu se excerder ainda mais que os policiais militares - que, embora também tenham extrapolado os limites da razão pelo uso de violência desnecessária, ao menos tinham a desculpa (insuficiente, mesmo assim) de estarem agindo por ordem (irresponsável) do governador, e não pela defesa de seus próprios interesses classistas.

Pedro Mancini


Enxugamento...

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Atendendo às reclamações sobre o tamanho enorme de algumas de minhas postagens, fiz um pequeno "enxugamento" em meus escritos sobre o caso Eloá. Em verdade, o texto ficou um pouco mais longo pelo fato de eu ter colado matérias inteiras da Folha Online; na revisão, subsituí esses textos pelos "links" que levam à notícia integral.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Notícia de ontem

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Só para ratificar a minha postagem anterior, olhem só as consequências da abordagem da mídia sobre o caso Eloá:

Folha Online, 20/10/2008:
Tragédia de Eloá aquece audiência e tira TV do traço, diz coluna
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"As redes de TV aumentaram seus índices de audiência com o caso Eloá, da menina de 15 anos que foi mantida refém pelo ex-namorado na última semana no apartamento em que morava, em Santo André, na Grande São Paulo, informa a coluna Outro Canal, assinada por Daniel Castro no caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo.

No fim de semana, a Folha Online já havia indicado que o ibope de alguns programas apresentava elevação devido à repercussão do caso.

A coluna de Castro informa que o total de televisores ligados na Grande São Paulo no fim de semana foi de 15% maior do que no anterior. No sábado, a média de televisores foi de 46%, a maior dos últimos dois meses.

A média da Globo no domingo, de 7h a 0h, subiu de 16 para 20 pontos, um crescimento de 25%, segundo o colunista. A Record News saltou de 0,3 para 1 no sábado, encostando na RedeTV!".

Não tem jeito: adoraaaaamos tragédias pessoais.



Pedro Mancini

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Trapalhadas de uma mídia intimista e sensacionalista

4 comentários:
Casos como o da menina Eloá, por mais trágicos que sejam, são um ótimo objeto de análise do papel da mídia na sociedade contemporânea. Com seu desfecho trasmitido ao vivo, a situação foi e continua sendo explorada "até a última gota" de múltiplas formas; por vários canais de Tv, pela internet e por qualquer outro meio midiático.


Uma das questões mais interessantes a se discutir, a respeito de tal cobertura, refere-se à sua relação com um processo mais amplo que assola a contemporaneidade: a intimização de toda a vida pública. Discutirei, assim, a cobertura da imprensa sobre o caso Eloá, focando a resposta da mídia sobre a demanda compulsiva de seu público, a respeito de informações de foro íntimo dos envolvidos no caso.

Suplantando a "racionalidade policial" (preocupada, teoricamente, com a solução mais adequada possível da situação gerada pelo jovem Lindemberg) pela "racionalidade midiática" (preocupada única e exclusivamente com a audiência), programas como o da "malufista botoxada" Sonia Abrão causam desconforto e conflitos entre os próprios jornalistas, pelo que são capazes de fazer para segurar a atenção do telespectador. Trato aqui, especialmente, de uma entrevista feita diretamente com o responsável pelo cárcere privado, Lindemberg. Esta reportagem, realizada totalmente à regalia da polícia, procurou dar um tom sentimental e psicológico à situação do cárcere, em uma clara busca desmedida e insana por audiência. Vejam as consequências de tal ação, inicialmente, com relação aos próprios colegas de trabalho de Abrão: http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/zapping/ult3954u457177.shtml


Como se não bastasse a busca pela constituição de um forte caráter intimista e emotivo no caso Eloá, buscando-se relelar em rede nacional a "alma" de Lindemberg, por exemplo, os dois repórteres destacados na matéria da Folha intimizam a própria briga - principalmente Abrão, ao disctuir sua "relação de amizade" com Datena, dizendo que, a partir da crítica proferida por seu colega, ele deixaria de ser seu "amiguinho". Age, assim, como se, na situação dada, o que estivesse em jogo fosse não sua atitute, considerada anti-ética até por outros representantes do jornalismo sensacionalista, mas sim sua relação pessoal com o "gordinho eufórico" da Band.

Esse é o grande movimento que nos assola: o julgamento não da ação dos homens, mas de seus comportamentos, de suas "almas" - do quanto eles "APARENTAM" serem bons ou maus. Não importa tanto o que fazemos, mas sim "quem somos" - mesmo que essa imagem, por vezes, não seja acompanhada de atitudes correlatas. No caso de Abrão, não interessa o que ela fez - todos devem acreditar que ela é uma pessoa "íntegra", "inquestionável". Ela mesma achou um absurdo que um "colega" criticasse suas atitudes; e respondeu não no mesmo nível, pela lógica das atitudes, mas sim no nível da intimidade e do comportamento, desviando as atenções de sua conduta, centralizando-as para seus "sentimentos" para com Datena...

A obsessão da mídia no caso, reflexo da própria obsessão do público com a intimidade humana, fez com que o próprio desenrolar do caso seja afetado. Lindemberg, produto dessa mesma sociedade intimista, apresenta claros problemas psicológicos - além da própria alteração de humor, aparenta uma certa obsessão (desculpe parecer repetitivo) por ser "o centro das atenções"; um certo narcisimo, em minha opinião (muito presente, também, na sociedade atual). Ao "invadir" a relação de negociação entre o jovem e a polícia, a mídia sensacionalista e faminta por Ibope dá ao jovem o que ele deseja, como a própria Abrão admitiu; com isso, ele se sente ainda mais poderoso, podendo agir de modo mais mais irracional e, por conseguinte, mais imprevisível.

Vejam parte de outra reportagem da Folha a respeito, elaborada antes do desfecho fatal:http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u456942.shtml

Vê-se, assim, que a intervenção desmedida da mídia pôde, com toda a probabilidade, ter prejudicado o desenrolar do caso e colaborado para o desfecho que todos procuraram, conscientemente, evitar. Tal espécie de intervenção prejudicial ganha ainda mais fôlego e liberdade de ação em um país como o nosso, em que a mídia se vê revestida de um enorme poder, de uma liberdade sem quaisquer limites éticos.

Nos próprios EUA, suposta "terra da liberdade", especialistas no procedimento da Swat afirmaram que a intervenção da mídia, em tal grau, certamente acarretaria na prisão dos repórteres envolvidos. Ao agirem de forma totalmente irresponsável, esses "vampiros da audiência" possibilitam uma piora significativa em qualquer caso policial similar, tornando uma situação já complexa ainda mais difícil de se solucionar.



Pedro Mancini


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pequena discussão sobre o estigma e prestígio

2 comentários:


Sempre fui classificado como alguém inteligente. De algum modo, passo essa imagem às outras pessoas, incluindo minha própria família. Talvez essa impressão seja reforçada pelo meu comportamento por vezes excêntrico, e até mesmo por sinais mais simples, como o puro uso de óculos (quem não parece intelectual usando esse velho acessório para os olhos?).

Não discuto o quanto essa imagem concorda ou não com a realidade. O fato é que não sou nenhum gênio. Ou seja: Não sou capaz de conquistar os meus objetivos mais visados sem o dispêndio de um grande esforço, de uma preparação meticulosa e responsável.

Talvez pela primeira vez em minha vida, consegui nesse ano conquistar um objetivo pessoal mediante grande dedicação e fazendo certas escolhas difíceis. Não que eu nunca tenha me esforçado para nada, mas com certeza nunca contei tanto com o meu esforço individual e tão pouco com supostos "dotes naturais" ou um suposto "potencial" inerente à minha imagem pessoal - essa imagem imposta de "inteligente".

Inculcaram-me essa percepção, esse estigma positivamente referido - ou, para utilizar a terminologia de E. Goffmann, esse "prestígio". Ora, o problema dos estigmas é que eles antecipam as impressões e as ações humanas, por vezes impedindo as relações de liberdade. Já conhecendo o estigma de um "louco", por exemplo, não esperamos que ele aja como uma pessoa "sã", e ainda interpretamos suas ações por meio desse estigma: alguma ação que seria tido como comum caso fosse proferida por uma pessoa "sã" pode ser interpretada como "loucura", caso fosse tomada por alguém marcado como "louco".

Por outro lado, o indivíduo estigmatizado pode se apropriar da interpretação feita sobre ele pelos outros, passando, por exemplo, a se enxergar como um louco, a aceitar tal classificação feita à sua pessoa. Isso pode não significar, necessariamente, que o indivíduo referido tenha sintomas "concretos" da loucura psíquica, mas, na prática, ele é visto como um louco perante o resto da sociedade.

Um estigma positivo ou prestígio cumpre papel semelhante. De um lado, pode ajudar, pois acaba-se acreditando, conforme apontado, na classificação que é dada. Alguém tido como "inteligente", mesmo sem tomas ações de fato tão inteligentes, pode passar a se apropriar dessa qualidade conferida e agir como alguém inteligente.

A partir de certo momento, contudo, esse estigma pode cumprir papel diametricalmente oposto: pode impedir o desenvolvimento maior das habilidades relacionadas a tal prestígio. Assim, alguém visto como "inteligente" pode deixar de enxergar a necessidade de provar, na prática, tal inteligência; é evidente que ele "é" inteligente, esse fato já foi naturalizado. Impõe-se, assim, uma situação conformista, em que é desestimulada qualquer atitude nova, capaz de validar o estigma positivo.

Neste caso, a situação colocada é oposta à do estigma negativo, que, quando totalmente estabelecido, pode impedir ou anular ações contestadores de tal estigma, quando partidas do próprio estigmatizado. Uma criança que é vista e se vê como "burra" pode deixar de demostrar qualquer atitude inteligente: ninguém espera isso dela, nem ela própria.

Têm-se assim, e voltando ao estigma positivo ou prestígio, uma situação extremamente delicada: por um lado, qualquer ação inteligente adotada por alguém visto como inteligente está dentro das espectativas; ninguém espera que ele aja de maneira estúpida. O "inteligente" se vê de certa forma compelido a seguir as espectativas colocadas pelos outros, tendo sempre que demostrar ser de fato inteligente; e, quando o faz, "não faz mais do que a obrigação", por assim dizer. Paradoxalmente, a posição confortável do "inteligente", que solidificou sua auto-imagem de acordo com tal estigma, pode impedir que ele continue a tomar ações inteligentes que validam esse próprio estigma.

Por essa razão, devemos, sempre que possível, nos esquivar das informações passadas por um sinal de estigma ou de prestígio, buscando conhecer as pessoas por suas ações, e não por sua aparência superficial. Ao mesmo tempo, uma auto-análise é sempre útil e válida a esse respeito: até que ponto minhas ações relfetem minha auto-imagem e a imagem a mim conferida pelos outros?

No momento, reflito sobre essa problemática com relação à minha própria imagem.




Pedro Mancini

Agora sim! (?)

2 comentários:
Já deu para notar que não tenho conseguido manter as promessas de publicação nesse blog. Então, a partir de hoje já não prometo nada: publicarei de acordo com a minha vontade e, principalmente, de acordo com as minhas possibilidades no momento.


De todo modo, acredito que, daqui para a frente (ao menos até março ou abril do ano que vem),será mais fácil manter esse blog ativo. Isso porque o motivo de meu afastamento foi recentemente eliminado com a minha ingressão no mestrado!


Graças a essa conquista, que tanto esgotou minhas forças nesse ano de muito trabalho, aprendi uma série de lições. Discutirei, no próximo post, o que julgo ser o principal aprendizado adquirido.