quinta-feira, 31 de março de 2011

Juventude versus Experiência

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Admito que parece idiota estabelecer uma comparação entre a experiência dos mais velhos e a paixão da juventude: além de a maioria das pessoas não poder ser definida como apenas “experiente” ou apenas “apaixonada”, havendo muitas posições intermediárias, cada um dos lados do espectro possui suas vantagens e desvantagens – nenhum é absolutamente bom ou ruim. Muitos dirão até que os dois lados da moeda são complementares por suas características, auxiliando-se mutuamente. A experiência sem a curiosidade e paixão da juventude parece vazia e sem propósito, e a paixão e o espírito de descoberta dos jovens é muito desperdiçado quando na ausência absoluta da experiência para direcioná-los apropriadamente.

Mesmo assim, arrisco-me a elaborar algumas comparações. Tive experiências, como todo mundo, tanto com pessoas mais jovens e apaixonadas, quanto com baluartes de sabedoria, que haviam adquirido massivos conhecimentos em sua luta cotidiana. Encantei-me com os dois lados; a paixão dos jovens é contagiante, e parece ser a essência da própria existência humana. Sedentos em provar seu valor a si mesmos e à sociedade, os jovens apaixonados dedicam-se às suas atribuições com uma vontade sincera, até mesmo agressiva - embora, muitas vezes, de modo ingênuo e pouco focado. 

Mais velhos, por sua vez, sempre têm algo a nos ensinar - mesmo quando já perderam boa parte de sua paixão juvenil, calejados pelo enfrentar de duros obstáculos. Podem não se dedicar às tarefas com tanta vontade quanto os mais jovens, mas utilizam todo o conhecimento adquirido para realizá-las com maior perfeição técnica. E, mais importante, em geral são capazes de transmitir sua sabedoria aos jovens, que sempre podem recheá-la com a sua paixão  peculiar.

Voltemo-nos, porém, aos principais problemas que encontramos quando levamos os dois lados da moeda ao seu extremo: a juventude apaixonada absoluta, de um lado, e a máxima sabedoria dos mais experientes, de outro. O que pode haver de pior em um e noutro caso? O que existe no “experiente desapaixonado” e no “inexperiente apaixonado”?

Ao meu ver, a pior conseqüência, no último caso, é a ignorância – a ausência de sabedoria que ocasiona em tomadas de decisão equivocadas. Embora esse seja um problema irritante, não é insolúvel; muito pelo contrário, é o pressuposto de todo o aprendizado: errar para aprender, desenvolver-se a partir dos próprios erros. É claro que a paixão pode obscurecer a necessidade de admitir os próprios erros (alguma sabedoria é necessária para isso, aliás), mas, em geral, esse grande “defeito” dos inexperientes é a própria solução para a superação de sua condição de ignorância. Com um mínimo de experiência que o tempo fornece, um jovem pode rapidamente aprender a minimizar sua ignorância, admitindo seus próprios limites.

É o oposto, porém, que me incomoda mais: os "experientes" que perderam qualquer intenção de aprender, apegando-se e isolando-se naqueles conhecimentos que a vivência lhes trouxe. Convencidos de sua superioridade prática, pelo tanto que viveram e pela relevância de suas experiências, vêem os jovens, heróis do presente, como idiotas pretenciosos; qualquer argumento que os últimos exponham pode ser rechaçado como “ignorância juvenil”, como um efeito colateral de sua falta de experiência. Por mais que muitas vezes possam ter razão nesse tipo de crítica, o simples fato de sempre se protegerem com ela é sintoma de seu fechamento para o mundo e suas novidades. Não reconhecendo o valor dos mais jovens, desprezam o próprio presente, deixando-o de compreendê-lo, para idealizar um passado que dominavam. São velhos desapaixonados pelo presente, dominados por um puro saudosismo.

É comum encontrar indivíduos dessa espécie por aí – nem sempre velhos, mas sempre com ferrugem em suas mentes -, nos mais variados ambientes. Profissionalmente, acreditando já deter pleno conhecimento de sua área, repetem frases de efeito e impõe sua perspectiva para compreender o mundo que o cercam - em um exercício com uma alta dose de narcisismo; aquilo que não se enquadra em seu modo de pensar é sumariamente ignorado, tal como a realidade em si. É cego perante a profundidade da existência alheia, já que acredita que dela nada mais pode aprender, afundado na ilusão de que já está cansado de conhecê-la. Desprovido da paixão e da necessidade por reconhecimento (muitas vezes já conquistado em lutas pregressas), torna-se relaxado. Sua experiência, acredita, já valida suas ações, a ponto de viver do “improviso” – entre aspas, pois não se trata de agir com espontaneidade, mas apenas repetir o que disse e fez mil vezes seguidas.

Uma associação interessante pode ser estabelecida com a ocorrência de acidentes de trânsito: os piores, que redundam em mortos e feridos graves, são ocasionados, em geral, por aqueles mais seguros na direção - e não por “neuróticos”, medrosos, que vão pensar mil vezes antes de pisar fundo em alguma rodovia. Aqui, entramos novamente na questão da idade: é óbvio que há muito mais jovens que se acham “bons de volante”, muito experientes e habilidosos, e acabam se matando por esse excesso de segurança na própria habilidade, do que pessoas de idade mais avançada. O “fechamento para o mundo”, decorrente de uma ilusória confiança nos próprios conhecimentos, aflige quase todas as idades (a exceção, talvez, seja a primeira infância). De modo similar, o conceito de “juventude” deve ser relativizado – não se trata de uma fase temporal determinada da vida, mas sim de uma forma de encará-la, que requer uma abertura ao mundo, uma curiosidade e uma humildade para sempre estar disposto a aprender (sem nunca de apegar profundamente aos conhecimentos que adquire, como se fossem absolutos e irrevogáveis).

Vale apontar que, pelas características próprias da sociedade contemporânea, pautada pela inovação constante, a "filosofia de vida" juvenil se torna ainda mais fundamental; os tempos em que a mera experiência e o apego às tradições provinham as melhores características pessoais para uma boa vivência social ficaram nos séculos passados, entre as chamadas “sociedades tradicionais”. Na era das redes sociais, dos smarthfones e iPads,  o papel do apego à experiência pregressa pode se limitar ao de verdadeiro grilhão para a adaptação social.  

Pedro Mancini


segunda-feira, 14 de março de 2011

A queda do muro das redes e a a reunificação das identidades virtuais

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Em outras ocasiões, já escrevi sobre como as novas formas de sociabilidade online estimulam uma percepção de fragmentação das identidades pessoais. Precisando administrar inúmeros perfis virtuais, com suas redes de contato específicas, o indivíduo inserido em relações sociais intermediadas pela internet precisa demonstrar grande competência na arte de administrar papéis e ferramentas interativas: Facebook, Twitter, Orkut, Skype, MSN, e-mail - várias formas de comunicação são utilizadas simultaneamente, cada  qual com seus instrumentos particulares.A autora Sherry Turkle já estabeleceu um paralelo entre essa fragmentação do self e a própria dinâmica do sistema operacional Windows, da Microsoft: de forma similar a esse último (e, em partes, para adaptar-se a ele), o indivíduo precisa administrar várias "janelas" autônomas, com diferenças de micro-segundos de troca entre elas.

Há dois anos, porém, a revista Wired previu que a fragmentação da internet em várias redes sociais estava condenada: apostou que os muros que separam essas redes seriam diluídos em pouco tempo. Até hoje, essa previsão não se cumpriu: a maior promessa feita nesse sentido, o Google Wave, foi um fiasco e, por mais que o Facebook  disponibilize vários aplicativos de integração com outras redes (como o Twitter), essa relação não parece "natural", estando sujeita a bugs e imprecisões (re-twitadas, por exemplo, não são reproduzidas pelo aplicativo do Facebook). Reportagens, blogs e sites de vídeos também disponibilizam ferramentas de compartilhamento entre redes, mas ainda há um considerável caminho a percorrer. Continuamos a administrar redes sociais quase em isolado, preenchendo nossos dados em cada uma, dialogando com pessoas diferentes, e refazendo o procedimento de postagem de  fotos, textos e vídeos.

Talvez todo esse trabalho estimule o ciclo "ascenção-queda-estagnação" das redes sociais: sendo tão difícil administrar todas ao mesmo tempo, opta-se por priorizar apenas uma, a rede "do momento", e passa-se a desprezar as demais. Orkut, Second Life e Twitter, pelo menos, já passaram por esse processo - e ainda não há evidências de que o Facebook não terá o mesmo destino, decaindo e estagnando após um período de sucesso absoluto. Hoje, embora o Twitter continue a manter muitos adeptos, vislumbra-se um processo de evasão, e as vozes dos que ficam não parecem superar a muralha que cerca essa rede. Ainda há pouco diálogo entre tal micro-universo virtual e todos os demais.

Mesmo assim, acho que a previsão da Wired nunca esteve tão perto de se cumprir. A eclosão de aplicativos de compartilhamento mostra que a exigência por integração continua a crescer - partindo tanto de usuários, que utilizam tais aplicativos com maior freqüência,  quanto das próprias empresas, que melhor poderiam administrar as informações de seus usuários se essas fossem absolutamente integradas, ao invés de fragmentadas em comunidades independentes.

Enfim, acredito que a destruição dessa muralha trará grandes conseqüências para o papel da internet na constituição e experimentação de identidades. O estímulo ao exercício de modos diferentes de ser sofrerá limitações, uma vez que o indivíduo não mais falará para públicos diferentes em plataformas distintas, mas sim para a mesma rede de contatos - que terá ligações cada vez mais explícitas com os contatos do mundo físico. Assim, enquanto em um universo virtual repleto de redes sociais particulares podemos assumir papéis variados (um personagem para o Twitter, outro para o Facebook, e assim por diante), em um contexto em que o que escrevemos ecoa em todos os locais, inclusive no próprio ambiente físico, tendemos a assumir um único papel, o mais coerente possível com o assumido nas relações face a face. É impossível prever o quanto relações virtuais baseadas no anonimato ainda deterão importância nesse contexto, mas acredito que elas não representarão um grande contraponto à tendência pela "unificação" das identidades virtuais.

De toda forma, difícil crer que esse movimento resultará em uma redução do uso das redes, ou em uma banalização desse uso, com a eclosão de uma sensação de mesmidade e tédio entre os usuários: creio, pelo contrário, que disso resultará um novo patamar do uso da internet, onde os indivíduos serão tentados a produzir muito mais informações a respeito de si mesmos, e com mais freqüência. Já vemos, principalmente no Facebook e no Twitter, esse tipo de pressão, em que a exibição de informações pessoais, o compartilhamento de vídeos, fotos e notícias, as re-twitadas de trend topics e o uso da própria ferramenta "curtir" (do Facebook) são usadas para medir o grau de participação pessoal na rede e a popularidade individual do sujeito. Com o fim da necessidade de gerenciar mil comunidades concomitantemente, acredito que sobrará mais tempo e disposição para muitos entrarem nesse engalfinhamento competitivo por mais "produção pessoal" e popularidade, resultando em um aumento massivo na participação virtual.

É claro, aos meus olhos, que mesmo que esse movimento represente uma redução do fomento  à multiplicidade identitária no uso da internet, ainda há uma compatibilidade entre ele e o processo de difusão de identidades plásticas entre os indivíduos imersos na sociedade contemporânea (de acordo com argumentação presente nos textos mais recentes do filósofo Vladimir Safatle). Em outras palavras, embora menos múltiplas, as identidades exercidas na internet tenderão a se tornar mais flexíveis do que nunca, adaptando-se com grande velocidade às tendências e modismos globais e locais, por meio da alimentação contínua de informações, tanto nos perfis quanto nas caixas de diálogo público das contas dos usuários das redes.

Pedro Mancini






sábado, 5 de março de 2011

A devassidão da Sandy e a lógica da sociedade de consumo

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Dia desses, um novo comercial sacudiu as redes sociais: uma campanha desenvolvida pela cervejaria Devassa, em que um suposto modelo de pureza e bom-mocismo, Sandy, aparecia revelando um suposto lado "devasso". Exibindo um penteado diferente, a cantora simula uma lap dance em um palco, perante uma grande platéia masculina.



Não tardou para que várias pessoas discutissem a atuação da ex-sertaneja e o conteúdo simbólico do comercial. Entre as principais reações, destaca-se a falta de convencimento da representação de Sandy como "devassa": sua imagem de pureza parece ter penetrado tão profundamente no inconsciente de seu público, que ele simplesmente não engole quando ela foge do papel. Apontam que ela própria não estava convencida da personagem, incorporando com pouquíssimo sucesso a safadeza que lhe foi imputada. Na reportagem a seguir, chegam a contestar a "habilidade" da garota com o copo:



Outros discutem a triste adaptação da imagem da Sandy a um padrão formatado de submissão ao prazer masculino - a incorporação da artista à lógica machista, igualmente presente em populares revistas "femininas", como a Nova (que recomendam às mulheres explorar, de forma absolutamente técnica, habilidades e comportamento que servem especificamente para maximizar os prazeres do parceiro sexual). Como exemplo dessas críticas, indico a última postagem de Tica Moreno.

Mas há outro modo de compreender a utilização do "lado devasso" da artista em um comercial de cerveja. A interpretação que ofereço não é de todo antagônica à visão feminista: não há dúvidas de que a intenção da cervejaria era associar um padrão específico de mulher (que serve aos interesses carnais masculinos mais  banais) ao consumo de cerveja propriamente dito.

Mas se a intenção era somente exibir um padrão de sexualidade adaptado ao prazer masculino, por que escolheriam uma garota que é comumente associada à pureza, virgindade e ao bom comportamento (à submissão sem graça às regras masculinas e ao modelo de "Amélia", portanto)? Não era mais fácil manter a Paris Hilton como garota-propaganda, ou adotar outra modelo-atriz com uma devassa reputação pregressa?

Na verdade, o comercial diz mais sobre a sociedade contemporânea do que os primeiros comentários a seu respeito fazem supor. E o fato de escolherem a Sandy como garota-propaganda é a chave para compreendermos a estratégia de marketing da empresa: explorar uma imagem de ambivalência e de cinismo,  em que são reveladas formas múltiplas de existência, que simulam uma transgressão da norma vigente. Assim, a idéia parece ser de, por meio de uma figura santificada como a da Sandy, explorar o lado "perverso" de cada um de nós, um aspecto que contradiz - sem excluir - o lado bonzinho, que segue um padrão fixado de conduta moral. Sandy não é, assim, uma figura de pura devassidão, mas uma pessoa múltipla, em certo sentido bi-polar, que possui tanto um lado santo, quando um lado "pervertido", por assim dizer. Norma e "transgressão da norma" em uma mesma representação social.

Em uma sociedade capitalista em que os vínculos com os objetos são frágeis, é sábio aproveitar-se dessa fragilidade. Com a redução da importância e da capacidade de convencimento e de identificação de conteúdos normativos, as formas de publicidade que exploram imagens "típico-ideais" de sujeitos (como os antigos comerciais de margarina, que mostravam a típica família nuclear americana - um casal branco feliz, com um casal de filhos e um cachorro, morando na praia) caducam, sendo substituídas por propagandas que exploram, muito mais, o caráter ambíguo ou múltiplo dos indivíduos. Conseguem, assim, atingir um público muito mais amplo: não só aqueles que identificam-se a um padrão, como os que "rebelam-se" contra ele. A negação das velhas estratégias de publicidade acaba, então, sendo igualmente colonizada pelo sistema publicitário.



Assim, a Sandy parece transgredir a sua própria imagem ao agir de modo "devasso"; enquanto outros comerciais chegam a aproveitar-se da retórica da revolução para difundir sua lógica consumista nada revolucionária (lembram-se do comercial "revolução dos dedos", da Vivo, ou da "revolução da esfiha" do Habibs? O último, ainda consegui puxar do YouTube...). Vende-se a idéia, dessa forma, de que estaríamos "transgredindo" a sociedade ao consumir alguns de seus produtos.




Essa percepção foi importada do filósofo uspiano Vladimir Safatle, que estuda, justamente, a publicidade contemporânea e a retórica do consumo. Assim, a estratégia da Devassa não é tão nova, mesmo se considerarmos esse aspecto da bipolaridade, e é bem menos ousada e criativa do que as inicialmente desenvolvidas com a intenção de explorar essa ambivalência (como as marcas Versace e Calvin Klein, especialmente em suas campanhas das décadas de 1990 e 2000). A diferença, com relação à marca brasileira, está em que os dois pólos de ambiguidade explorados são baseadas em imagens machistas: a mulher pura e submissa, de um lado, e a "gostosa" e perversa, boa de cama, por outro. Pureza e safadeza na mesma pessoa (uma santa na rua, uma puta na cama) - a imagem da "mulher perfeita" para o homem comum.Mesmo assim, vende-se a representação de uma marca que costesta a lógica operante da "boa-sociedade", representada pelo bom-mocismo da cantora, violado pelos poucos segundos de duração do comercial. Uma contestação de fachada, que revela, na verdade, um outro padrão de conduta baseado no prazer masculino (mas que pode, contraditoriamente, estar presente na mais comportada das mulheres). Algo bem menos ousado do que a ambiguidade sexual explorada no passado recente pela Versace, que

"(...) se resume a fotos de um casal na cama ou em um quarto com decoração carregada e pretensões de luxo. (...) Nós sempre sabemos quem é um dos parceiros (um homem ou uma mulher bem vestidos em posição de autoconfiança, tédio e domínio da situação), mas nunca sabemos quem é o outro, já que sempre aparece sem rosto, jogado em um canto para denotar que foi usado em um jogo sexual, com roupas íntimas femininas e traços de corpo masculino. Implicações de um lesbianismo lipstick, de homossexualismo e de ambiguidade sexual são evidentes. Note-se que este apelo ao embaralhamento de papéis sexuais não é direcionado para um target homossexual. O target da Versace é composto basicamente de mulheres com mais de 30 anos" (SAFATLE, 2006, p. 61).

Vejam um exemplo dessas propagandas:

De toda forma, e apesar da limitação e teimosia brasileira em continuar a explorar uma imagem machista sobre a mulher, o objetivo dessas campanhas e daquela da Devassa tem suas similaridades: a busca por uma flexibilização de padrões de identificação. Mais uma vez citando Safatle, 

"A publicidade contemporânea e a cultura de massa está repleta de padrões de condutas construído através de figuras para as quais convergem disposições aparentemente contrárias. Mulheres, ao mesmo tempo, lascivas e puras, crianças, ao mesmo tempo, adultas e infantis, marcas tradicionais e modernas.(...) Uma época como esta permite que marcas tragam, ao mesmo tempo, a enunciação da transgressão e da norma. Até porque os sujeitos estão presos a esta lógica de ao mesmo tempo aceitar a norma e desejar sua transgressão. A publicidade compreendeu isto. Daí porque atualmente ela fala a eles visando este ponto em que transgressão e norma se inbricam" (ibidem, p. 59-60)

É uma pena que a transgressão da norma, para nós, tenha sido tão falsificada a ponto de se resumir à imagem de uma mulher que recusa-se a se limitar à figura machista de santa, apenas para explorar o aspecto igualmente impositivo da mulher enquanto objeto devasso para um puro consumo masculino. Cabe a nós, meros mortais, mostrar o verdadeiro significado da transgressão (se é que ela ainda existe),quando nem a norma, nem a sua suposta "violação" nos parece justa - submetendo-nos, ao invés de nos libertar, aos aspectos mais opressivos da lógica do consumo. 



Pedro Mancini