sexta-feira, 25 de abril de 2008

Liberdade trôpega

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Em muitas ocasiões, a vida nos impõe a necessidade de tomar decisões que determinarão o curso de nossa felicidade de modo fundamental e permanente. São momentos em que temos que pesar nossas necessidades mais primordiais, por um lado, e nossos interesses e necessidades secundárias, por outro; em que se concretiza uma oposição clara entre o "querer" e o "precisar".




De um lado, temos uma "opção" mais fácil e imediatista, vinculada às nossas necessidades de sobrevivência. No caso profissional, o exemplo ideal seria a oportunidade de um trabalho que oferece uma renda necessária, embora, muitas vezes, vinculado a uma função não tão atrante quanto a que imaginamos mais compatível com nossa personalidade e habilidades.




De outro, temos os nossos sonhos, nossa necessidade menos imediata mas fundamental tanto para a mente quanto para o espírito, principalmente a longo prazo.




Esse é um problema enfrentado, em maior medida, por profissionais de áreas ainda pouco valorizadas e procuradas pelo mercado, como sociólogos - categoria a qual pertenço. Nesses casos, a dificuldade em encontrar uma colocação profissional que atenda plenamente nossas expectativas e sonhos e que, ao mesmo tempo, possibilita a sobrevivência econômica, faz com que nos rendamos, em situações de urgência "financeira", às primeiras oportunidades de remuneração razoável que surjam, mesmo quando relacionadas à funções mais afastadas de nossos desejos mais pessoais.

Tendemos ainda, uma vez estabelecidos em tal posição, a nos acomodarmos, criarmos "raízes" para garantir a tão sofridamente conquistada posição. Com o passar dos anos, corre-se assim um sério risco de afastamento progressivo e continuado de nossos sonhos e de todas as ações a eles relacionados; é o triunfo final da necessidade sobre a liberdade, quando preferimos a perfeição profissional cotidiana em detrimento às atividades que fundamentam nossos interesses mais específicos.


Esse oposição entre liberdade e necessidade, já presente na vida das pólis gregas da Antigüidade, foi analisada de forma muito competende pela filósofa Hannah Arendt. Para os gregos, a liberdade humana estava condicionada à superação das necessidades; apenas aqueles, por exemplo, que detinham a posse de escravos e, portanto, tinham suas necessidades sanadas pelos últimos, podiam de fato exercer sua liberdade em meio à esfera política de interação. Caso contrário, se tivesse que garantir seu próprio sustento, sanar suas próprias necessidades, o homem, descaracterizado enquanto cidadão, não passava de um "escravo de suas próprias necessidades" - impossibilitado, portanto, de realizar-se plenamente, na e pela interação com seus conterrâneos em meio ao mundo político.

Trazendo tal raciocínio para a contemporaneidade, podemos refletir sobre até que ponto somos capazes de exercer nossa liberdade da forma como compreendida pelos gregos antigos. No meu caso, mesmo o exercício tão agradável e humanizante da publicação de relatos nesse blog, e que não demanda tanto tempo diário, fica limitado por essa terrível necessidade de sobrevivência que domina meu cotidiano. Expressar minhas opiniões exige, assim, uma luta diária contra atividades que requerem atenção mais imediata, pois vinculadas à manutenção de minha própria existência...
Pedro Mancini


Nota crítica sobre a lista dos "maiores intelectuais"

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A revista inglesa "Prospect" divulgou a realização de uma nova votação pela Internet para definir os 100 "maiores intelectuais" da atualidade. O mesmo processo já havia sido realizado em 2005, quando o lingüista Noam Chomsky ficou em primeiro lugar na lista divulgada no final do mesmo ano.


Cada internauta tem o direito de votar em cinco intelectuais dentre os 100 que a revista selecionou previamente, além de poder escolher um "voto de bônus", dado a alguma personalidade que, segundo a opinião do votante, deveria estar na lista da "Prospect".

Cabe questionar, contudo, até que ponto tal critério de votação é capaz de comtemplar uma análise mais realista sobre a qualidade dos pensadores mundiais. Ora, é provável que a maior parte dos internautas votantes nem conheça a respeito dos trabalhos realizados por boa parte dos 100 intelectuais presentes na listagem; assim, é óbvio que aqueles com maior presença na mídia partem de uma vantagem considerável sobre vários nomes, como os pensadores mais jovens, com idéias potencialmente mais inovadoras, e sem espaço significativo na mídia internacional. É por essa razão que pessoas como o Papa João XVI, com o lobby da ainda poderosíssima Igreja Católica, aparecem na lista e ainda recebem uma votação considerável. Um exemplo mais tosco pode ser detectado em meio às indicações de inclusão de nomes por parte dos internautas: em 2005, foi sugerida a inclusão, por exemplo, do vocalista-populista-estrelinha do U2, Bono Vox (ora, pode-se até, quem sabe, considerar que ele é um bom músico - não concordaria, mas aceito o gosto dos outros -, e valorizar sua luta pela defesa de qualquer ser vivo, mas querer insinuar que ele é um intelectual é forçar demais a "barra", não é?).

O caso da inclusão de Fernando Henrique Cardoso e, em 2005, de sua presença da 43ª colocação, também não é surpreendente, dado o caráter da votação; como trata-se do único brasileiro na lista, óbvio que muitos conterrâneos votam na figura de seu ex-presidente apenas para impor nosso país em mais uma classificação, sem maiores critérios de avaliação propriamente acadêmicos, intelectualizados.
Sobre isso, cabe ainda considerar os critérios estabelecidos pela revista na escolha dos nomes. Exige-se que o intelectual esteja vivo e "atuante em seu meio", o que não significa, todavia, que as contribuições intelectuais conferidas ao selecionado tenham importância atual. No caso de FHC, pode-se considerar a possibilidade de o mesmo estar presente na lista devido sua importância para a Sociologia crítica brasileira décadas atrás, mesmo que, na atualidade, suas contribuições não sejam das maiores nessa área em especial. Assim, sua eleição como o 43º intelectual de maior importância no globo em 2005 poderia ser explicada por dois fatores principais: a) sua colaboração passada para a Sociologia no Brasil; e b) razões de interesse político de parte da população votante, simpáticas às posições atuais de nosso ex-presidente (tão distoantes daquelas que balizaram seu valorizado raciocício de tempos passados). As constatações anteriormente feitas, evidentemente, podem ser extendidas para a interpretação da presença de vários outros indivíduos na classificação feita pela "Prospect".

Não pretendo, com essas observações, desmerecer a idéia implantada pela "Prospect", revista britânica conceituada. Trata-se, sem dúvida, de uma iniciativa interessante, e que conta com muitos critérios válidos de avaliação dos pensadores da atualidade. O público da revista é, inclusive, mais intelectualizado do que a média (nota: não no sentido de superioridade relação a outros grupos, mas no sentido de serem detentores do habitus intelectual, de formas específicas de pensar e agir), acompanhando notícias sobre a vida acadêmica e profissional desses pensadores, sendo, sim, capazes de emitir opiniões válidas sobre o assunto. Mesmo assim, não são apenas tais leitores que votam na pesquisa realizada pela revista, mas sim um público mais amplo - não necessariamente interado com os temas tratados pela publicação.
Não devemos, assim, acreditar que a mencionada pesquisa é capaz de avaliar, com rigor, a "qualidade" dos intelectuais dos vários países participantes; pode-se adquirir, com maior efeito, uma medida da popularidade dos mesmos perante o público. Essa ressalva pode nos ajudar na manutenção de um espírito crítico sobre os autores mais influentes da contemporaneidade, desconstruindo a relação nada óbvia entre reconhecimento e capacidade teórica. Afinal, nem sempre (ou quase nunca) os mais famosos são os melhores...

Pedro Mancini

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Saudades...

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Como, possivelmente, alguma alma solitária que ainda tente acompanhar o progresso desse blog possa ter percebido, não consegui, no mês de abril, cumprir minha meta de publicação. Inicialmente, isso ocorreu devido a uma certa frustração com o número reduzido de visitantes desse blog, admito, assim como de qualquer comentário sobre meus escritos. Ultimamente, contudo, é inegável que teria escrito muito mais, se não fosse pela pura e simples falta de tempo.




Agora que acumulei alguns assuntos sobre os quais escrever e recuperei um pedaço de minha empolgação, tentarei, ao máximo, voltar a publicar minhas ideías o quanto antes. E me sentir, assim um pouco mais... humano! (Explicarei mais sobre essa visão numa publicação próxima.)




Pedro Mancini