sábado, 6 de dezembro de 2008

Novo Show do Iron!

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Folha Online, 28/11/2008

Iron Maiden volta ao Brasil em 2009 em encerramento de turnê


"O Iron Maiden volta ao Brasil em março de 2009 com shows da turnê "Somewhere Back In Time" nas cidades de São Paulo --no Autódromo de Interlagos-- Manaus, Rio de Janeiro, Recife e Brasília.

Em março deste ano, os metaleiros passaram pelo Brasil com esta turnê. O retorno está na agenda de apresentações finais da turnê internacional.

A banda se apresenta em Manaus, no dia 12 de março, no Rio de Janeiro, dia 14, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, no dia 15, em Recife, no dia 18, e em Brasília, dia 20. (...)

(...) Para o show no Autódromo de Interlagos, o Iron Maiden trará para o país todo o equipamento do show apresentado na Europa, com um set list especial e pirotecnias".

Os poucos que acompanham esse humilde blog sabe que estive no show do ano passado, ocorrido no estádio de futebol do Palmeiras, o Parque Antártica.

Pois bem, pelo tanto que adorei aquele show, mesmo sendo em um local relativemente pequeno e sem a exibição de toda a tecnologia que a banda poderia utilizar, não resisti à tentação de voltar a presenciar esse fantástico grupo, tão presente em minha adolescência (e até hoje). Agradeço à minha querida Diana pela compra dos ingressos (por um preço salgadinho, até...) pela Internet, que me possibilitará assistir à apresentação, que promete ser bem melhor que a anterior... a começar pelo local (o Autódromo de Interlagos, muuuito mais espaçoso!), e considerando que o próprio Bruce Dickinson prometeu realizar um show bastante piroténico. Ah, sim: ao contrário do ano passado, em que assisti da arquibancada, ficarei com minha namorada na pista central... o que deve tornar a experiência muito mais intensa.


Pedro Mancini

Será?

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Coluna Zapping, Folha de São Paulo, 03/12/2008:


"MPF quer multa de Sonia Abrão"

"Sonia Abrão falou ao vivo com o seqüestrador e com a adolescente. O Ministério Público Federal pediu indenização de R$ 1,5 milhão (o dinheiro vai para projetos de direitos humanos) pelo fato de a imagem da menor, Eloá, ter sido usada sem autorização judicial. Além disso, segundo o MP, Sonia interferiu na atividade policial, colocando a vida da adolescente e dos envolvidos na operação em risco. A Rede TV! diz que não foi notificada e que se sente censurada. Quanto à Globo, que também exibiu entrevista (gravada) feita por Zelda Mello, o ministério diz que enviou um ofício ao RJ, onde fica a sede da emissora. A Record também exibiu entrevista, mas o ministério afirma que não teve conhecimento oficial".


Já é um passo, não?? Mas... e como ficam as emissoras mais poderosas (e TEORICAMENTE mais discretas), como a Globo e a Record? Será que também serão punidas de alguma forma pela irresponsabilidade?


Pedro Mancini

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pequena ressalva - Datena X Abrão

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Gostaria de fazer um pequeno comentário a respeito do embate, analisado dias atrás, entre representantes da mídia durante a cobertura do caso Eloá.

Em uma postagem anterior, indiquei que a briga se deu entre Datena e Abrão. Contudo, assistindo o programa do primeiro dias desses, percebi que as críticas proferidas referiam-se, em maior medida, à cobertura da Record sobre o incidente.

De fato, essa emissora, assim como a de Abrão, realizou entrevistas com Lindemberg, o ex-namorado de Eloá ainda durante o cativeiro, mas não parou por aí: conseguiu, misteriosamente, adentrar o presídio em que Lindemberg foi confinado após o desfecho do caso, obtendo, em primeira mão, uma "entrevista" com o próprio autor do crime. A emissora, ao tomar essa espécie de atitude jornalística, em seu desespero por superção da audiência da Rede Globo, mandou a ética às favas, de forma tão ou mais forte do que Abrão. Suas intervenções jornalísticas poderiam inclusive ser interpretadas como obstáculos aos procedimentos policiais na situação do cativeiro.

Um agravamente para a atuação da emissora do bispo Edir Macedo é a insistência pela busca de uma imagem "séria", preocupação estética importada, também, da Globo. Ao contrário de canais como o SBT e a Rede Tv, que admitem e cultivam sua imagem brega e sensacionalista, a Record tenta camuflar esse caráter, próprio de sua atuação real. Demostrando seu caráter hipócrita, essa rede age de forma extremamente sensacionalista buscando, em paralelo, manter uma imagem exterior de seriedade e ética absolutos.

Embora Datena continue sendo uma figura deplorável do jornalismo brasileiro, como muitas outras, nesse episódio ele ganhou alguns pontinhos, em minha opinião: demonstrando certa coragem (estimulada, é claro, pelos interesses próprios de seu programa e sua emissora), o gordinho enfrentou seus rivais sensacionalistas convocando até a Justiça à puní-los criminalmente pela atuação deplorável no caso Eloá.



Pedro Mancini

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A vitória de Kassab - aspectos "racionais" das eleições municipais

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A vitória de Gilberto Kassab nas eleições municipais de São Paulo, no último domingo, pode ser analisada por duas vias distintas: 1) pressupondo a existência de motivos racionais (mesmo que, muitas vezes, camuflado) dos eleitores, vinculados à defesa mais ou menos consciente de seus interesses classistas mais imediatos; ou, por outra linha, 2) valorizando-se os aspectos mais irracionais que levaram à escolha, pelos eleitores, do candidato do DEM.

A primeira abordagem estaria mais próxima da interpretação marxista da realidade. Uma vez que, como sabido, a classe média detém uma enorme força política em São Paulo, a competência mais elevada de Kassab em representar seus interesses, econômicos e políticos, viabilizou sua vitória eleitoral.

O recente episódio da cartinha de despejo de Kassab, explorado por Marta no detabe da Globo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u460064.shtml), além de outras medidas tomadas pela gestão atual, indicam que ele não era o candidato mais adequado para combater as desigualdades sociais, tão presentes em nossa realidade, e a atender os interesses da população mais desfavorecida. Independentemente da qualidade puramente administrativa de seu governo, o prefeito priorizou, com efeito, a defesa de interesses específicos de classe - não, de forma tão clara, os interesses mais amplo da cidade, pensada enquanto conjunto estruturado.

Isso pode ser constatado estabelecendo-se um paralelo entre as políticas públicas que implantou pensando nas classes menos favorecidas, copiadas e apropriadas das propostas de Marta (como o Céu e os benefícios do Bilhete Único), e aquelas medidas que, de fato, foram novidade: a Lei Cidade-Limpa, por exemplo, e a boa idéia da Virada Cultural.

Foram medidas, de fato, bem pensadas e aplicadas de forma competende - valorizando-se o aspecto cultural e turístico da cidade; mas, convenhamos, não foram medidas voltadas ao combate à pobreza ou à desigualdade, tão gritantes em nossa sociedade. A construção de muros segregadores de favelas e a já referida "cartinha do despejo", assim como a ordem de pintar viadutos grafitados, também mostram a quem - e de que forma - o prefeito, fundamentalmente, serve. Tem preoupações claras com a limpeza da cidade (inclusive com uma contestável "higienização social", focando-se na segregação das favelas e na expulsão de famílias), e com a valorização da perspectiva de vida típica dos setores elitizados da sociedade paulistana.

Tais espécias de ação, somadas à continuidade de políticas públicas pensadas por Marta, podem ajudar a refletir sobre a eleição de Kassab, de acordo com a primeira perspectiva apresentada. Os eleitores das classes média e alta votaram pois sabia que, de fato, ele defendia SEUS interesses - e não da cidade como um todo, como transpareceu em sua propaganda. Seria, assim, um voto "racional", ao menos relativamente.

Por outro lado, ao aplicar e aprimorar as mesmas políticas públicas de Marta, Kassab conseguiu "roubar" boa parte do eleitorado em potencial de sua rival; o novo queridinho do DEM posou de "defensor dos Céus e do Bilhete Único", chegando a tentar descolar a imagem de seus reais criadores desses produtos políticos. E conseguiu, em boa medida.

Assim, Kassab somou o apoio massivo das classes média e alta, defensoras egoístas de seus próprios interesses, à parcela da população beneficiada, por exemplo, pelos Céus, inicialmente pensados pela petista.

Mesmo quando se avalia a eleição pela segunda abordagem inicialmente apontada (a "irracional"), contudo, o aspecto classista destas eleições não pode ser deixado de lado. De fato, acredito que Kassab tenha conseguido desenvolver uma imagem simbólica que cativou, principalmente, a poderosa classe média paulista - cujo modo de pensar, predominante, costuma ser decisivo nas eleições municipais. A imagem meticulosamente forjada e manipulada do prefeito eleito, desde seus gestos mais simples, seu modo de vestir e seu jeitinho de falar exibidos no horário eleitoral, conseguiu travestí-lo como representante simbólico legítimo de determinadas classes sociais.


Pedro Mancini


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bobagens proferidas por um governador

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Ufa! Está difícil acompanhar os acontecimentos mais recentes nesse blog... ainda mais com o surgimento do "caso Eloá", que a tudo obscurece.

Mesmo também sendo suplantadas por acontecimentos mais recentes, gostaria de discutir brevemente as infelizes delcarações, proferidas por José Serra, a respeito do protesto dos policiais civis durante a semana passada.

Aí vai o "link" com a reportagem a respeito dessas declarações:

Culpando o PT e o PDT pela manifestação dos policiais civis que resultou em um conflito pesado entre as corporações policiais do Estado, Serra associou a passeata a uma "politização" do movimento. Ora, todo movimento por melhores salários e condições de trabalho, suas manifestções, passeatas e movimentos de greve, são políticos por natureza!!! Como pode o governador, que já foi militante em sua juventude política, desconsiderar esse fato tão primordial?

A associação do movimento grevista com a CUT do PT e a Força Sindical do PDT também não deveria ser nenhuma novidade. O relacionamento entre movimentos políticos de categorias profissionais e partidos políticos é clássico e previsível, e não descaracteriza uma ação coletiva como a proferida pela polícia civil, mobilizada em torno de seus interesses de classe.

Demostrando uma má-fé impressionante, o governador tenta deslegitimar o movimento por meio do ataque a suas influências partidárias e seus componentes individuais. É claro que, dentro de qualquer ação política, existem interesses diversos envolvidos; e, em meio aos componentes do grupo em questão, haverá sempre indivíduos com motivações distintas daquelas tomadas pelo movimento como um todo. Isso não significa, no entanto, que as razões de ser de tal movimento deixaram de existir. Como outra reportagem da FolhaOnline apontou (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u457377.shtml), a greve dos policiais têm razões legítimas de ser. Não deve ser explicado, portanto, por mera manipulação eleitoral, desprovida de um sentido real.

O mesmo ataque é realizado, com certa constância, contra militantes de movimentos organizados como o MST. Ora, é claro que dentro de tal grupo existem vários subgrupos com interesses questionáveis (por exemplo, pelo enriquecimento pessoal, por meio da venda de propriedades rurais invadidas); isso não esconde o fato, contudo, de o movimento ainda possuir razões de existência e legitimidade: é inegável que uma grande reforma agrária deveria ser feita em nosso país, e que a mesma teria o potencial de beneficiar milhões de brasileiros. E é a falta de tal reforma que possibilita a existência de movimentos que a defendam e exijam uma atitude do poder público.

Entramos, ao discutir esse assunto, na velha questão que costumo expor no blog: a exploração da "intimidade" e do "comportamento" das pessoas e dos movimentos coletivos, ao invés do julgamento de suas ações em si e de suas motivações, das condições de sua existência. Culpam os movimentos pelo comportamento de parte de seus componentes, desviando, com isso, a atenção sobre as justificativas desse movimento, de suas condições de origem.

Pode, sim, ter havido manipulação eleitoral do movimento dos policiais grevistas; isso não deve ser usado, contudo, para atacar a validade desse movimento. Os policiais civis, de fato, continuam ganhando mal e tendo sua profissão desvalorizada, independentemente do quanto tenham sido "manipulados" por interesses diretamente vinculados às eleições (interesses também naturais nas diputas políticas, já que as eleições são uma de suas principais expressões).

Obs: Não faço, aqui, a discussão a respeito do conflito em si, que ocorreu às portas do Palácio do governador; mas quero deixar claro que, embora defenda as razões de existência do movimento grevista, ele conseguiu se excerder ainda mais que os policiais militares - que, embora também tenham extrapolado os limites da razão pelo uso de violência desnecessária, ao menos tinham a desculpa (insuficiente, mesmo assim) de estarem agindo por ordem (irresponsável) do governador, e não pela defesa de seus próprios interesses classistas.

Pedro Mancini


Enxugamento...

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Atendendo às reclamações sobre o tamanho enorme de algumas de minhas postagens, fiz um pequeno "enxugamento" em meus escritos sobre o caso Eloá. Em verdade, o texto ficou um pouco mais longo pelo fato de eu ter colado matérias inteiras da Folha Online; na revisão, subsituí esses textos pelos "links" que levam à notícia integral.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Notícia de ontem

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Só para ratificar a minha postagem anterior, olhem só as consequências da abordagem da mídia sobre o caso Eloá:

Folha Online, 20/10/2008:
Tragédia de Eloá aquece audiência e tira TV do traço, diz coluna
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"As redes de TV aumentaram seus índices de audiência com o caso Eloá, da menina de 15 anos que foi mantida refém pelo ex-namorado na última semana no apartamento em que morava, em Santo André, na Grande São Paulo, informa a coluna Outro Canal, assinada por Daniel Castro no caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo.

No fim de semana, a Folha Online já havia indicado que o ibope de alguns programas apresentava elevação devido à repercussão do caso.

A coluna de Castro informa que o total de televisores ligados na Grande São Paulo no fim de semana foi de 15% maior do que no anterior. No sábado, a média de televisores foi de 46%, a maior dos últimos dois meses.

A média da Globo no domingo, de 7h a 0h, subiu de 16 para 20 pontos, um crescimento de 25%, segundo o colunista. A Record News saltou de 0,3 para 1 no sábado, encostando na RedeTV!".

Não tem jeito: adoraaaaamos tragédias pessoais.



Pedro Mancini

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Trapalhadas de uma mídia intimista e sensacionalista

4 comentários:
Casos como o da menina Eloá, por mais trágicos que sejam, são um ótimo objeto de análise do papel da mídia na sociedade contemporânea. Com seu desfecho trasmitido ao vivo, a situação foi e continua sendo explorada "até a última gota" de múltiplas formas; por vários canais de Tv, pela internet e por qualquer outro meio midiático.


Uma das questões mais interessantes a se discutir, a respeito de tal cobertura, refere-se à sua relação com um processo mais amplo que assola a contemporaneidade: a intimização de toda a vida pública. Discutirei, assim, a cobertura da imprensa sobre o caso Eloá, focando a resposta da mídia sobre a demanda compulsiva de seu público, a respeito de informações de foro íntimo dos envolvidos no caso.

Suplantando a "racionalidade policial" (preocupada, teoricamente, com a solução mais adequada possível da situação gerada pelo jovem Lindemberg) pela "racionalidade midiática" (preocupada única e exclusivamente com a audiência), programas como o da "malufista botoxada" Sonia Abrão causam desconforto e conflitos entre os próprios jornalistas, pelo que são capazes de fazer para segurar a atenção do telespectador. Trato aqui, especialmente, de uma entrevista feita diretamente com o responsável pelo cárcere privado, Lindemberg. Esta reportagem, realizada totalmente à regalia da polícia, procurou dar um tom sentimental e psicológico à situação do cárcere, em uma clara busca desmedida e insana por audiência. Vejam as consequências de tal ação, inicialmente, com relação aos próprios colegas de trabalho de Abrão: http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/zapping/ult3954u457177.shtml


Como se não bastasse a busca pela constituição de um forte caráter intimista e emotivo no caso Eloá, buscando-se relelar em rede nacional a "alma" de Lindemberg, por exemplo, os dois repórteres destacados na matéria da Folha intimizam a própria briga - principalmente Abrão, ao disctuir sua "relação de amizade" com Datena, dizendo que, a partir da crítica proferida por seu colega, ele deixaria de ser seu "amiguinho". Age, assim, como se, na situação dada, o que estivesse em jogo fosse não sua atitute, considerada anti-ética até por outros representantes do jornalismo sensacionalista, mas sim sua relação pessoal com o "gordinho eufórico" da Band.

Esse é o grande movimento que nos assola: o julgamento não da ação dos homens, mas de seus comportamentos, de suas "almas" - do quanto eles "APARENTAM" serem bons ou maus. Não importa tanto o que fazemos, mas sim "quem somos" - mesmo que essa imagem, por vezes, não seja acompanhada de atitudes correlatas. No caso de Abrão, não interessa o que ela fez - todos devem acreditar que ela é uma pessoa "íntegra", "inquestionável". Ela mesma achou um absurdo que um "colega" criticasse suas atitudes; e respondeu não no mesmo nível, pela lógica das atitudes, mas sim no nível da intimidade e do comportamento, desviando as atenções de sua conduta, centralizando-as para seus "sentimentos" para com Datena...

A obsessão da mídia no caso, reflexo da própria obsessão do público com a intimidade humana, fez com que o próprio desenrolar do caso seja afetado. Lindemberg, produto dessa mesma sociedade intimista, apresenta claros problemas psicológicos - além da própria alteração de humor, aparenta uma certa obsessão (desculpe parecer repetitivo) por ser "o centro das atenções"; um certo narcisimo, em minha opinião (muito presente, também, na sociedade atual). Ao "invadir" a relação de negociação entre o jovem e a polícia, a mídia sensacionalista e faminta por Ibope dá ao jovem o que ele deseja, como a própria Abrão admitiu; com isso, ele se sente ainda mais poderoso, podendo agir de modo mais mais irracional e, por conseguinte, mais imprevisível.

Vejam parte de outra reportagem da Folha a respeito, elaborada antes do desfecho fatal:http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u456942.shtml

Vê-se, assim, que a intervenção desmedida da mídia pôde, com toda a probabilidade, ter prejudicado o desenrolar do caso e colaborado para o desfecho que todos procuraram, conscientemente, evitar. Tal espécie de intervenção prejudicial ganha ainda mais fôlego e liberdade de ação em um país como o nosso, em que a mídia se vê revestida de um enorme poder, de uma liberdade sem quaisquer limites éticos.

Nos próprios EUA, suposta "terra da liberdade", especialistas no procedimento da Swat afirmaram que a intervenção da mídia, em tal grau, certamente acarretaria na prisão dos repórteres envolvidos. Ao agirem de forma totalmente irresponsável, esses "vampiros da audiência" possibilitam uma piora significativa em qualquer caso policial similar, tornando uma situação já complexa ainda mais difícil de se solucionar.



Pedro Mancini


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pequena discussão sobre o estigma e prestígio

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Sempre fui classificado como alguém inteligente. De algum modo, passo essa imagem às outras pessoas, incluindo minha própria família. Talvez essa impressão seja reforçada pelo meu comportamento por vezes excêntrico, e até mesmo por sinais mais simples, como o puro uso de óculos (quem não parece intelectual usando esse velho acessório para os olhos?).

Não discuto o quanto essa imagem concorda ou não com a realidade. O fato é que não sou nenhum gênio. Ou seja: Não sou capaz de conquistar os meus objetivos mais visados sem o dispêndio de um grande esforço, de uma preparação meticulosa e responsável.

Talvez pela primeira vez em minha vida, consegui nesse ano conquistar um objetivo pessoal mediante grande dedicação e fazendo certas escolhas difíceis. Não que eu nunca tenha me esforçado para nada, mas com certeza nunca contei tanto com o meu esforço individual e tão pouco com supostos "dotes naturais" ou um suposto "potencial" inerente à minha imagem pessoal - essa imagem imposta de "inteligente".

Inculcaram-me essa percepção, esse estigma positivamente referido - ou, para utilizar a terminologia de E. Goffmann, esse "prestígio". Ora, o problema dos estigmas é que eles antecipam as impressões e as ações humanas, por vezes impedindo as relações de liberdade. Já conhecendo o estigma de um "louco", por exemplo, não esperamos que ele aja como uma pessoa "sã", e ainda interpretamos suas ações por meio desse estigma: alguma ação que seria tido como comum caso fosse proferida por uma pessoa "sã" pode ser interpretada como "loucura", caso fosse tomada por alguém marcado como "louco".

Por outro lado, o indivíduo estigmatizado pode se apropriar da interpretação feita sobre ele pelos outros, passando, por exemplo, a se enxergar como um louco, a aceitar tal classificação feita à sua pessoa. Isso pode não significar, necessariamente, que o indivíduo referido tenha sintomas "concretos" da loucura psíquica, mas, na prática, ele é visto como um louco perante o resto da sociedade.

Um estigma positivo ou prestígio cumpre papel semelhante. De um lado, pode ajudar, pois acaba-se acreditando, conforme apontado, na classificação que é dada. Alguém tido como "inteligente", mesmo sem tomas ações de fato tão inteligentes, pode passar a se apropriar dessa qualidade conferida e agir como alguém inteligente.

A partir de certo momento, contudo, esse estigma pode cumprir papel diametricalmente oposto: pode impedir o desenvolvimento maior das habilidades relacionadas a tal prestígio. Assim, alguém visto como "inteligente" pode deixar de enxergar a necessidade de provar, na prática, tal inteligência; é evidente que ele "é" inteligente, esse fato já foi naturalizado. Impõe-se, assim, uma situação conformista, em que é desestimulada qualquer atitude nova, capaz de validar o estigma positivo.

Neste caso, a situação colocada é oposta à do estigma negativo, que, quando totalmente estabelecido, pode impedir ou anular ações contestadores de tal estigma, quando partidas do próprio estigmatizado. Uma criança que é vista e se vê como "burra" pode deixar de demostrar qualquer atitude inteligente: ninguém espera isso dela, nem ela própria.

Têm-se assim, e voltando ao estigma positivo ou prestígio, uma situação extremamente delicada: por um lado, qualquer ação inteligente adotada por alguém visto como inteligente está dentro das espectativas; ninguém espera que ele aja de maneira estúpida. O "inteligente" se vê de certa forma compelido a seguir as espectativas colocadas pelos outros, tendo sempre que demostrar ser de fato inteligente; e, quando o faz, "não faz mais do que a obrigação", por assim dizer. Paradoxalmente, a posição confortável do "inteligente", que solidificou sua auto-imagem de acordo com tal estigma, pode impedir que ele continue a tomar ações inteligentes que validam esse próprio estigma.

Por essa razão, devemos, sempre que possível, nos esquivar das informações passadas por um sinal de estigma ou de prestígio, buscando conhecer as pessoas por suas ações, e não por sua aparência superficial. Ao mesmo tempo, uma auto-análise é sempre útil e válida a esse respeito: até que ponto minhas ações relfetem minha auto-imagem e a imagem a mim conferida pelos outros?

No momento, reflito sobre essa problemática com relação à minha própria imagem.




Pedro Mancini

Agora sim! (?)

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Já deu para notar que não tenho conseguido manter as promessas de publicação nesse blog. Então, a partir de hoje já não prometo nada: publicarei de acordo com a minha vontade e, principalmente, de acordo com as minhas possibilidades no momento.


De todo modo, acredito que, daqui para a frente (ao menos até março ou abril do ano que vem),será mais fácil manter esse blog ativo. Isso porque o motivo de meu afastamento foi recentemente eliminado com a minha ingressão no mestrado!


Graças a essa conquista, que tanto esgotou minhas forças nesse ano de muito trabalho, aprendi uma série de lições. Discutirei, no próximo post, o que julgo ser o principal aprendizado adquirido.

domingo, 3 de agosto de 2008

Regressando

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Depois de quase três meses sem escrever, somente agora recobro, aos poucos, minha possibilidade e minha vontade de fazê-lo. Foi um tempo de trabalho pesado, certo estresse e um afastamento razoável de minha vida acadêmica... mesmo quando o tempo surgia, não me sentia confiante o suficiente para escrever.
Bom, mas como esse definitivamente NÃO deve ser um espaço para expor minhas angústias mais íntimas, paro por aqui com as reclamações. O importante é que tentarei retomar o ritmo a partir de agora, mesmo mantendo-me em um momento de tensão - a dois meses de prestar a prova teórica de ingressão para o mestrado. MEEEEEEEDO.
Pedro Mancini

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Liberdade trôpega

2 comentários:

Em muitas ocasiões, a vida nos impõe a necessidade de tomar decisões que determinarão o curso de nossa felicidade de modo fundamental e permanente. São momentos em que temos que pesar nossas necessidades mais primordiais, por um lado, e nossos interesses e necessidades secundárias, por outro; em que se concretiza uma oposição clara entre o "querer" e o "precisar".




De um lado, temos uma "opção" mais fácil e imediatista, vinculada às nossas necessidades de sobrevivência. No caso profissional, o exemplo ideal seria a oportunidade de um trabalho que oferece uma renda necessária, embora, muitas vezes, vinculado a uma função não tão atrante quanto a que imaginamos mais compatível com nossa personalidade e habilidades.




De outro, temos os nossos sonhos, nossa necessidade menos imediata mas fundamental tanto para a mente quanto para o espírito, principalmente a longo prazo.




Esse é um problema enfrentado, em maior medida, por profissionais de áreas ainda pouco valorizadas e procuradas pelo mercado, como sociólogos - categoria a qual pertenço. Nesses casos, a dificuldade em encontrar uma colocação profissional que atenda plenamente nossas expectativas e sonhos e que, ao mesmo tempo, possibilita a sobrevivência econômica, faz com que nos rendamos, em situações de urgência "financeira", às primeiras oportunidades de remuneração razoável que surjam, mesmo quando relacionadas à funções mais afastadas de nossos desejos mais pessoais.

Tendemos ainda, uma vez estabelecidos em tal posição, a nos acomodarmos, criarmos "raízes" para garantir a tão sofridamente conquistada posição. Com o passar dos anos, corre-se assim um sério risco de afastamento progressivo e continuado de nossos sonhos e de todas as ações a eles relacionados; é o triunfo final da necessidade sobre a liberdade, quando preferimos a perfeição profissional cotidiana em detrimento às atividades que fundamentam nossos interesses mais específicos.


Esse oposição entre liberdade e necessidade, já presente na vida das pólis gregas da Antigüidade, foi analisada de forma muito competende pela filósofa Hannah Arendt. Para os gregos, a liberdade humana estava condicionada à superação das necessidades; apenas aqueles, por exemplo, que detinham a posse de escravos e, portanto, tinham suas necessidades sanadas pelos últimos, podiam de fato exercer sua liberdade em meio à esfera política de interação. Caso contrário, se tivesse que garantir seu próprio sustento, sanar suas próprias necessidades, o homem, descaracterizado enquanto cidadão, não passava de um "escravo de suas próprias necessidades" - impossibilitado, portanto, de realizar-se plenamente, na e pela interação com seus conterrâneos em meio ao mundo político.

Trazendo tal raciocínio para a contemporaneidade, podemos refletir sobre até que ponto somos capazes de exercer nossa liberdade da forma como compreendida pelos gregos antigos. No meu caso, mesmo o exercício tão agradável e humanizante da publicação de relatos nesse blog, e que não demanda tanto tempo diário, fica limitado por essa terrível necessidade de sobrevivência que domina meu cotidiano. Expressar minhas opiniões exige, assim, uma luta diária contra atividades que requerem atenção mais imediata, pois vinculadas à manutenção de minha própria existência...
Pedro Mancini


Nota crítica sobre a lista dos "maiores intelectuais"

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A revista inglesa "Prospect" divulgou a realização de uma nova votação pela Internet para definir os 100 "maiores intelectuais" da atualidade. O mesmo processo já havia sido realizado em 2005, quando o lingüista Noam Chomsky ficou em primeiro lugar na lista divulgada no final do mesmo ano.


Cada internauta tem o direito de votar em cinco intelectuais dentre os 100 que a revista selecionou previamente, além de poder escolher um "voto de bônus", dado a alguma personalidade que, segundo a opinião do votante, deveria estar na lista da "Prospect".

Cabe questionar, contudo, até que ponto tal critério de votação é capaz de comtemplar uma análise mais realista sobre a qualidade dos pensadores mundiais. Ora, é provável que a maior parte dos internautas votantes nem conheça a respeito dos trabalhos realizados por boa parte dos 100 intelectuais presentes na listagem; assim, é óbvio que aqueles com maior presença na mídia partem de uma vantagem considerável sobre vários nomes, como os pensadores mais jovens, com idéias potencialmente mais inovadoras, e sem espaço significativo na mídia internacional. É por essa razão que pessoas como o Papa João XVI, com o lobby da ainda poderosíssima Igreja Católica, aparecem na lista e ainda recebem uma votação considerável. Um exemplo mais tosco pode ser detectado em meio às indicações de inclusão de nomes por parte dos internautas: em 2005, foi sugerida a inclusão, por exemplo, do vocalista-populista-estrelinha do U2, Bono Vox (ora, pode-se até, quem sabe, considerar que ele é um bom músico - não concordaria, mas aceito o gosto dos outros -, e valorizar sua luta pela defesa de qualquer ser vivo, mas querer insinuar que ele é um intelectual é forçar demais a "barra", não é?).

O caso da inclusão de Fernando Henrique Cardoso e, em 2005, de sua presença da 43ª colocação, também não é surpreendente, dado o caráter da votação; como trata-se do único brasileiro na lista, óbvio que muitos conterrâneos votam na figura de seu ex-presidente apenas para impor nosso país em mais uma classificação, sem maiores critérios de avaliação propriamente acadêmicos, intelectualizados.
Sobre isso, cabe ainda considerar os critérios estabelecidos pela revista na escolha dos nomes. Exige-se que o intelectual esteja vivo e "atuante em seu meio", o que não significa, todavia, que as contribuições intelectuais conferidas ao selecionado tenham importância atual. No caso de FHC, pode-se considerar a possibilidade de o mesmo estar presente na lista devido sua importância para a Sociologia crítica brasileira décadas atrás, mesmo que, na atualidade, suas contribuições não sejam das maiores nessa área em especial. Assim, sua eleição como o 43º intelectual de maior importância no globo em 2005 poderia ser explicada por dois fatores principais: a) sua colaboração passada para a Sociologia no Brasil; e b) razões de interesse político de parte da população votante, simpáticas às posições atuais de nosso ex-presidente (tão distoantes daquelas que balizaram seu valorizado raciocício de tempos passados). As constatações anteriormente feitas, evidentemente, podem ser extendidas para a interpretação da presença de vários outros indivíduos na classificação feita pela "Prospect".

Não pretendo, com essas observações, desmerecer a idéia implantada pela "Prospect", revista britânica conceituada. Trata-se, sem dúvida, de uma iniciativa interessante, e que conta com muitos critérios válidos de avaliação dos pensadores da atualidade. O público da revista é, inclusive, mais intelectualizado do que a média (nota: não no sentido de superioridade relação a outros grupos, mas no sentido de serem detentores do habitus intelectual, de formas específicas de pensar e agir), acompanhando notícias sobre a vida acadêmica e profissional desses pensadores, sendo, sim, capazes de emitir opiniões válidas sobre o assunto. Mesmo assim, não são apenas tais leitores que votam na pesquisa realizada pela revista, mas sim um público mais amplo - não necessariamente interado com os temas tratados pela publicação.
Não devemos, assim, acreditar que a mencionada pesquisa é capaz de avaliar, com rigor, a "qualidade" dos intelectuais dos vários países participantes; pode-se adquirir, com maior efeito, uma medida da popularidade dos mesmos perante o público. Essa ressalva pode nos ajudar na manutenção de um espírito crítico sobre os autores mais influentes da contemporaneidade, desconstruindo a relação nada óbvia entre reconhecimento e capacidade teórica. Afinal, nem sempre (ou quase nunca) os mais famosos são os melhores...

Pedro Mancini

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Saudades...

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Como, possivelmente, alguma alma solitária que ainda tente acompanhar o progresso desse blog possa ter percebido, não consegui, no mês de abril, cumprir minha meta de publicação. Inicialmente, isso ocorreu devido a uma certa frustração com o número reduzido de visitantes desse blog, admito, assim como de qualquer comentário sobre meus escritos. Ultimamente, contudo, é inegável que teria escrito muito mais, se não fosse pela pura e simples falta de tempo.




Agora que acumulei alguns assuntos sobre os quais escrever e recuperei um pedaço de minha empolgação, tentarei, ao máximo, voltar a publicar minhas ideías o quanto antes. E me sentir, assim um pouco mais... humano! (Explicarei mais sobre essa visão numa publicação próxima.)




Pedro Mancini

quinta-feira, 20 de março de 2008

Recomendação de Leitura - Caso Isabella

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Enquanto eu não posto nenhuma interpretação particular sobre "o caso que está comovendo o país", como a mídia constuma definí-lo, envio apenas uma recomendação de leitura sobre o assunto - uma publicação do filósofo e cartunista da Folha Online Hélio Schwartsman.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u392839.shtml

quinta-feira, 13 de março de 2008

A Igreja Católica, o Brasil e a Hipocrisia

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Como se não bastasse o fato de nossa sociedade já possuir práticas culturais que se parecem com exemplos práticos dos "pecados clássicos" da Igreja Católica (apesar de o Brasil ser considerado o "maior país católico do mundo"), algumas figuras do Vaticano resolvem listar alguns novos "maus hábitos" que aproximam mais ainda os brasileiros de sua "inevitável danação".


Vamos a uma pequena análise dos pecados originais e dos comportamentos brasileiros equivalentes:



- Gula: Como todo país cheio de contradições, ao mesmo tempo em que a fome é propagada em regiões isoladas do Norte e do Nordeste, nos grandes aglomerados urbanos a gula é bastante comum entre os que têm alguma condição de comprar mantimentos; somos conhecidos por alguns dos pratos mais pesados do planeta, como a tradicional feijoada e o churrasco de tipo brasileiro. Sem contar as inúmeras empresas produtoras de "porcarias"no país - bolachas, biscoitos sabor "bacon" de marcas e qualidades muito variadas, etc. Além de comermos muito, comemos muito mal.



- Luxúria: segundo a Wikipédia, é o "desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material". Bom, não preciso me alongar aqui: o Brasil é tão sexualizado que atrai milhares de turistas sedentos por sexo fácil e barato a cada ano, especialmente no período do Carnaval. Somos considerados alguns dos melhores amantes do globo. E, é lógico, adoramos ostentar riquezas - mesmo quando não podemos pagá-las à vista, ou de nenhuma forma.



- Avareza: na concepção cristã, avareza leva o homem a idolatrar bens materiais ao invés do Deus Todo-poderoso. É exatamente o que fazemos quando nos tornamos tão obsessivos pelas "marcas" de nossas roupas e carros, dando-lhes uma "personalidade" como se fossem um ser vivo, e não um simples objeto de uso - "fetichizando" a mercadoria, como diria Karl Marx. Ademais, a mera acumulação de tais bens "reificados" vira um fim em si mesmo, e não um meio para a manutenção da existência material. Bom, não sei quanto a vocês, mas conheço inúmeros exemplos de pessoas "avarentas" nessa concepção, espalhadas, por exemplo, pelas regiões mais "civilizadas" da cidade de São Paulo.



- Ira: Ora, apesar de sermos "o país do carnaval", com fama de alegres, atenciosos e receptivos, só o somos com relação aos estrangeiros ou aos nossos amigos pessoais e familiares. Mas, assim que nos vemos obrigados a lidar com conflitos sociais, com o "povão" e os criminosos que povoam seu ambiente específico, largamos toda essa "boa vontade" e partimos para a agressão pura e simples; nos tornamos vingativos, irracionais, passionais: irados. "Pena de morte neles!" "Tem que torturar, mesmo!" Sem contar, é claro, a própria ira contiuda em nossa criminalidade, capaz de arrastar garotos pelas ruas e queimar jornalistas vivos do alto dos morros.



- Soberba: Já a soberba estaria relacionada à "tendência de um indivíduo para um modo de vida caracterizado por grandes despesas supérfluas e pelo gosto da ostentação e do prazer". Bom, não quero me tornar ainda mais repetitivo.



- Vaidade: é o desejo de atrair a admiração de outras pessoas. Somada à já discutida luxúria, desenvolve-se uma especial preocupação em chamar fisicamente a atenção dos outros. Somos o segundo país que mais se utiliza de cirurgias plásticas para melhorarmos nossa aparência; implante de silicone nos seios, então, praticamente virou "coisa de criança", literalmente. Sem contar o apelo de piercings, tatuagens e vestimentas mais "sexies", que também adoramos.



- Preguiça: Não tendo, aqui, a concordar tanto que o brasileiro, por excelência, seja preguiçoso: pelo contrário, muitos de nós trabalhamos até demais. Muitos acordam às quatro horas da manhã, e voltam para casa perto da meia-noite. Por outro lado, somos o país com um número absurdo de feriados nacionais. Mais uma área de extremas contradições, portanto.



Domingo, dia 9 de março, o monsenhor Gianfranco Girotti, responsável pelo tribunal da Cúria Romana que trata das questões internas do Vaticano, publicou em uma entrevista no jornal L'Osservatore Romano uma lista contendo novos pecados capitais, a serem evitados pelos fiéis do Catolicismo - e pelos quais os mesmos devem solicitar o perdão divino. Vamos, agora, a uma análise sobre esses novos e divertidos pecados:



- Violações "bioéticas", como é entendido, por exemplo, o controle de natalidade: Ok, não somos tão craques nessa área, a julgar pelo número de recém-nascidos a cada ano; mas a população tem tantos filhos não porque sejam politica e religiosamente contrários ao uso da camisinha, mas por puro desleixo. E estima-se que somos um dos países com maior número de realizações de aborto ilegais.



- Experimentos com células-tronco: taí um fator positivo - fomos o primeiro país do Hemisfério Sul a ingressar no Projeto Genoma. Opa! Isso também seria pecado...
- Utilização de drogas: nosso "querido" tráfico já fala por si. Se vendem, tem quem compre. MUITOS que comprem.



- Poluição do ambiente: apesar de conseguirmos, um ano ou outro, reduzir nossa emissão de poluentes, ainda somos um dos países mais poluentes do planeta. Nossos rios são imundos, a multidão de carros nas grandes metrópoles não nos permitem respirar com qualidade há muito tempo... e nossas florestas são devastadas pelas queimdas, que, além de destruírem habitats naturais, ainda prejudicam mais ainda nossa sofrida camada de ozônio.



- Aumento da injustiça social: Já fomos "eleitos" pelas Nações Unidas como o país mais desigual do mundo! Mas, ao menos, parece que não temos "aumentado" nossa injustiça social, já que hoje ocupamos a 8ª posição no índice... entre mais de 190 países.



- Riqueza excessiva: se somos um dos países mais desiguais do mundo, isso só significa uma coisa: que existe um deseqülíbrio absurdo entre o número de ricos e o volume de sua riqueza e o número de pobres e sua referida pobreza. Logo, ao se considerar o número elevado de miseráveis do país, os ricos detém, de fato, uma "riqueza excessiva", da forma como esse pecado parece se referir.





Vemos, assim, mais uma faceta de nossa tão presente hipocrisia: o maior país católico do mundo também é um dos mais pecadores - senão o maior - de acordo com a ideologia da Igreja Católica.




Pedro Mancini

sexta-feira, 7 de março de 2008

Crise na América Latina- A cultura latino-americana de resolução de conflitos pela intolerância violenta

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Mais uma crise diplomática na América do Sul, mais uma oportunidade de propagação de absurdos. O recente ataque das forças colombianas ao território do Equador e muitas das suas conseqüências até agora não passam de mais uma representação da tentação latino-americana de resolver todas as suas questões - principalmente, seus problemas sociais e políticos - da forma mais intolerante e violenta possível.



A Colômbia destaca-se como principal representante desta problemática. Por décadas, governo, paramilitares de direita e guerrilhas de esquerda confrontam-se utilizando todos os meios necessários para manter uma ordem pautada na intolerância, de um lado, ou, de outro, para impor um determinado ponto de vista a toda uma nação. O governo colombiano sempre se utilizou de meios escusos para combater as FARC e o ELN - contratando, por exemplo, paramiliares que utilizam métodos tão ou mais terríveis do que as guerrilhas comunistas para combatê-las, aplicando venenos tóxicos internacionalmente condenados para destruir plantações de maconha (afetando moradores de vilas diversas, e atingindo, ainda, o território de outros países) e comentendo puros e simples assassinatos a representantes políticos dos revolucionários, mesmo após tentativasde paz - sempre fracassadas.



As FARC, por sua vez, já mostraram ao mundo que são capazes das maiores atrocidades contra a população colombiana. Nascendo em uma época de forte radicalismo e segmentação entre direita e esquerda no sub-continente, quando governos populares e ditaduras militares competiam diretamente, a guerrilha respondeu da forma violenta reconhecida na época para alterar toda a realidade social - uma vez que a violência e a falta de espaço democrático inerente aos próprios governos da época impediam a viabilidade da atuação parlamentar desses revolucionários. Aprimorando apenas seus meios técnicos de utilização da violência, sem, no entanto, conseguir avançar muito no que se refere à sua atitude política e ao trato de sua imagem, a guerrilha de hoje encontra-se em uma posição anacrônica em relação à população colombiana mais ampla - que, tendo seus membros seqüestrados continuamente, anseiam por uma solução rápida do conflito.



O fracasso das negociações entre a guerrilha e o governo de Andrés Pastrana, em 2000, eliminou a última chance até então de finalizar uma onda de intolerância mútua, em que ambos os lados poderiam ser amplamente beneficiados. Ao contrário, o que houve prejudicou os dois lados da guerra civil; de um lado, o governo desceu novamente ao nível do terrorismo, utilizando métodos condenáveis de combate à sua própria população - e ainda, com pleno suporte econômico e militar do governo norte-americano. Em última instância, mostrando o quanto a Colômbia de hoje não mede as conseqüencias de seus atos com racionalidade (ou boa-fé?), a postura militarista de Álvaro Uribe resultou em um massivo incidente internacional.



As FARC, por sua vez, ao não conseguirem selar a paz, perderam muito de seu apoio popular, sofrendo um desgaste sem precedentes, além da perda pura e simples de milhares de vidas e centenas de quilômetros de território controlado.




O fato é que, independente da visão política presente em cada lado dessa história, nenhum deles representa uma alternativa para a América Latina - antes de tudo, pelo seu método de existência. De forma alguma um Estado de direito, como se considera a Colômbia de Uribe, deve se pautar apenas em meios militares, paramilitares e terroristas para combater quem quer que seja - ainda mais, uma parcela de sua própria população (fato esquecido: sim, os membros das FARC são colombianos). Assim como o governo da cidade do Rio de Janeiro, e outros tantos prováveis exemplos presentes em toda a América Latina, o Estado se vê desobrigado a inserir a parcela diretamente influenciada pelos criminosos, e afetada por uma situação de aterradora desigualdade social, em sua população assistida - se vendo reduzido à função repressora e excludente, e acabando por criminalizar a situação da pobreza em si.


Tal situação absurda cessará apenas quando o Estado deixar de se ver e ser visto a partir dessa única função repressora e violenta, e preocupar-se mais notadamente com a inclusão dos membros desfavorecidos de sua sociedade - não afastando e punindo os miseráveis, mas, pelo contrário, fazendo-se presente na missão de tirá-los de tal situação, inserindo-os na sociedade mais ampla. Seja ela colombiana, brasileira ou de qualquer outra nação desse sub-continente.






Pedro Mancini

segunda-feira, 3 de março de 2008

Nota rápida sobre o Show do Iron Maiden

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Simplesmente fantástico. Os maiores clássicos da banda foram tocados, incluindo The Number of the Beast, Fear of the Dark, Powerslave e The Trooper. É claro que, a respeito de muitas músicas, minha namorada, muito mais metaleira, me humilhou em seus conhecimentos: sabia de cor do início ao fim de quase todas as músicas tocadas (e não somente o refrão, como a grande maioria presente).

Péssima, apenas, foi a apresentação de abertura, com a filhinha do Steve Harris... cada letrinha fraca, batida. O pior é que a banda dela, em si, parece boa. Muita embalagem para pouco conteúdo. Quase fiquei com pena da garota, dada a reação morníssima (para não dizer "gelada")
do público, mas aí matutei: Pô, cantando musiquinhas pop românticas e bobinhas no meio de milhares de metaleiros fanáticos, esperava o quê?? Ser ovacionada por longos minutos?


Obs: A cinco minutos do início real do show,uma chuva moderada atingiu o estádio... nós, desprevenidos, nos ensopamos e eu tive que passar o resto da noite sem minha camiseta nova do Iron. Mas até que no final, foi refrescante...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Preparativos para o Show

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Já entrando no clima do Rock´n Roll, pois estarei no show do IRON MAIDEN esse domingo, e devido à falta de tempo e vontade de publicar algo mais elaborado, postarei apenas a tradução da letra de uma das minhas músicas favoritas, da banda System of a Down (Fonte:http://letras.terra.com.br/system-of-a-down/303086/), que, para mim, fala de forma interessante e enigmática sobre a alienação presente na sociedade contemporânea:











Hypnotize (tradução)
System of a Down
Composição: Daron Malakian e Serj Tankian


Por que você não pergunta para as crianças na Praça da Paz Celestial?

É por causa da moda que eles estavam lá?

Eles disfarçam, hipnotizam

A televisão fez você comprar isso



Eu estou apenas sentado no meu carro e esperando pela minha...



Ela tem medo que eu a leve embora de lá

Deixou seus sonhos e seu país sem ninguém lá

Hipnotize as mentes simples

A propaganda nos deixa cegos



Eu estou apenas sentado no meu carro e esperando pela minha

garota

Eu estou apenas sentado no meu carro e esperando pela minha

garota

Eu estou apenas sentado no meu carro e esperando pela minha

garota

Eu estou apenas sentado no meu carro e esperando pela minha

garota





Pedro Mancini

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Conseqüencias da Renúncia de Fidel

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Após 49 anos no comando direto de Cuba, Fidel Castro renunciou ao poder. Logo que isso ocorrreu, assim como em várias ocasiões em que o velho comandante demonstrou sinais de fraqueza, a mídia manifestou seu entusiasmo e sua esperança por uma "abertura política" na ilha.

Na realidade, a chance de mudanças concretas, para além do processo de abertura econômica já processo no país, é pequena, ao menos por enquanto - Fidel ainda detém o fundamental cargo de Presidente do Partido Comunista, além de uma cadeira no parlamento; além disso, quem assumiu seu lugar presidencial foi seu irmão mais novo, Raúl, que sempre lhe foi fiel.

Todavia, ainda é importante entender de onde vem essa "fome" da mídia, essa impaciência por alterações no regime de inspiração socialista desenvolvido no local. Segundo minha perspectiva, é evidente que o país necessita de enormes reformas políticas e de uma quebra da lógica totalitária difundida por seus líderes; o problema, contudo, é que as mudanças que o empresariado mundial espera que assolem Cuba vão muito além das referidas reformas democráticas.

O interesse mais imediato é o econômico, obviamente - mas, além disso, e provavelmente mais fundamental, trata-se de um interesse ideológico dos agentes capitalistas. É óbvio que, assim, como ocorreu na União Soviética, se o regime castrista cair em Cuba, forças do capital internacional não tardarão a aparecer para forçar uma transição LIBERAL de cunho ECONÔMICO, bem antes do que uma "transição democrática". Como o mercado cubano possui importância minúscula na perspectiva econômica global, a liberalização total da economia representaria muito mais uma vitória político-ideológica do capitalismo do que um incremento relevante ao mercado mundial.

Acima de tudo, o que se pretende destruir é o sonho do socialismo de forma geral, relacionando-o de forma inexorável à uma estrutura política totalitária, avessa aos princípios da heterogeneidade humana. Ao criticar o regime de Castro, o mercado finge dar ênfase ao autoritarismo de seu Estado, mas, no fundo, ataca seus avanços sociais - no que se refere, por exemplo, à educação e à saúde públicas da Ilha.


O processo da queda do "socialismo" (capitalismo de Estado, para alguns analistas mais realistas) da União Soviética é uma prova viva da história dos reais interesses do mercado. Poucos anos após a liberalização da economia russa, bilionários nasceram do nada no país, beneficiados pelas reformas econômico-estruturais tocada a cabo pelos seus líderes (em especial, por meio de privatizações em massa que assolaram a nação). Foi o caso de Mikhail Khodorkovsky, que passou a administrar a outrora estatal companhia petrolífera Yukos, mais poderosa do país - a ponto de se tornar um dos homens mais ricos do mundo, em um intervalo de tempo impressionantemente curto. Por sua vez, quem analisa a Rússia de hoje sabe que, a despeito dessa liberalização econômica, reformas de cunho democrático ficaram longe de atingir os patamares esperados; até hoje, críticos de todo o planeta apontam para a truculência do governo local, que, entre outras medidas, proibiu manifestações e prendeu quantidade considerável de opositores políticos.


Não tenho dúvidas de que Cuba corre um risco similar, passível de concretização quando se der a queda do castrismo: a destruição quase obsoluta do "lado positivo da ilha", para o bem do "capital internacional", e, em paralelo, uma manutenção considerável (salvo algumas reformas "pincelares") da estrutura política atual - que corresponde, na minha visão, ao "lado negativo" do país. Conseqüências de uma associação simplista e, infelizmente, muito arraigada na mídia, entre um controle estatal dos meios de produção e uma forma autoritária de controle do Estado por um grupo burocrático corruptível. Quem conhece as publicações de socialistas históricos de renome, como Rosa Luxemburgo, sabe que tal associação é tão errônea quanto mal-intencionada. É uma pena que experiências humanamente catastróficas como a soviética, a cubana e a chinesa tenham dado tando respaldo a essa visão pessimista sobre a ideologia socialista, prestes a sofrer uma nova derrota.
Pedro Mancini

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Urso de Ouro a Padilha: celebração à polêmica?

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Sábado, dia 16 de fevereiro de 2008: José Padilha, diretor do sucesso "Tropa de Elite", conquista o Urso de Ouro em Berlim - mesmo prêmio ganho, dez anos antes, por Walter Salles Júnior, pelo filme "Central do Brasil".
Assim como quando lançado em nosso país, na Alemanha o filme de Padilha criou um grande alvoroço entre a crítica, que se manifestou de diversas formas: alguns acusaram o formato do filme de "fascista", responsável por uma apologia inconseqüente da violência por parte do Estado - incluindo a mundialmente condenada prática da tortura (que apenas alguns poucos líderes, como o belicista George W. Bush têm coragem de defender abertamente: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u372710.shtml); outros aplaudiram de pé a obra de Padilha, celebrando seu realismo implacável. Veja matéria na Folha com uma listagem de críticas relevantes feitas por jornais e revistas européias: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u371897.shtml.



José Padilha recebe seu "Urso de Ouro" em Berlim


É incontestável que "Tropa de Elite" põe o dedo em feridas bem feias da realidade brasileira, e que precisam de trato "médico" imediato. O realismo do filme tem esse mérito, de apontar em que ponto perigoso a sociedade brasileira chegou - ponto esse que, infelizmente, costuma ficar obscurecido por toda a festividade presente em nossa cultura, festividade essa que serve como uma espécie de narcótico para nossa capacidade de pensar de modo crítico a sociedade em que vivemos.

Contudo, começo a me perguntar até que ponto toda essa polêmica a respeito da intenção "real" do filme mereça uma resposta definitiva: Fascista ou apenas "corajoso"? Apologista da violência policial ou uma forma velada de crítica sobre a mesma?

Talvez a intenção de Padilha não possa ser encontrada em nenhuma dessas respostas. A polêmica, por si só, pode ser a "razão de ser" principal do filme, diferentemente de uma mera defesa ideológica - o próprio Padilha parece admitir não se enquadrar em um lado ideológico, ao criticar, em seu discurso em Berlim, a distinção entre "direita" e "esquerda" que persiste há séculos na sociedade ocidental. Esse ponto é uma demonstração central da estrutura pós-moderna do pensamento do diretor, expressa, por sua vez, no formato do filme premiado.

Desse perspectiva, o sucesso de bilheteria do filme poderia ser explicado por dois fatores principais: primeiro, uma apelação sensacionalista, com base na exibição exagerada de cenas de violência, e justificada pelo dito "realismo" adotado pelo filme; e, em segundo, pela polêmica que causou na grande massa da população, inclusive na crítica mais especializada, somada à possibilidade de apropriação da idéia por discursos ideológicos distintos.

Nesse caso, a fórmula adotada por Padilha teve clara inspiração na obra do diretor Fernando Meirelles, "Cidade de Deus" (2002) - que, do mesmo modo, por ser quase puramente "realista", deixava margem às mesmas interpretações distintas sobre a intenção do autor. Qual seria, afinal, a intenção desse último: romantizar o traficante a partir da personagem "Zé Pequeno" ou criticar o estilo de vida criado e mantido pelo crime organizado nas favelas? "Zé Pequeno" é herói ou vilão? E o "Capitão Nascimento"? Independentemente da relação oposta entre as duas personagens, a possibilidade dúbia de interpretação a respeito de seu caráter fez com que ambos os filmes discutidos se tornassem sucesso, tanto da perspectiva da bilheteria, quanto da crítica. Polêmica vende, assim como sexo e violência. Talvez mais.

Vê-se que José Padilha, que já havia seguido a cartilha do sensacionalismo sentimental em "Ônibus 174" (e faço essa crítica apenas à forma do filme, e não ao seu conteúdo, para mim muito válido), que apelava para relatos pessoais complementados por melancólicas músicas de fundo, aplicou uma "nova" fórmula para aprimorar seu estilo em "Tropa de Elite". Não mais tomou um lado específico da trama - o que fez claramente em seu filme anterior, expondo a surpreendente história de Sandro Barbosa do Nascimento, seqüestrador do Ônibus da linha 174 do Rio, e criticando a atuação do mesmo Bope carioca cuja competência foi reverenciada em "Tropa" -, mas deixou para o público tomar esse lado ao não deixar claro o quê defende e o quê, exatamente, condena (para além da denúncia da hipocrisia presente nas classes média e alta brasileiras, financiadoras do tráfico de drogas e de seus "soldados").

Deixando essa interpretação em aberto, Padilha, inteligentemente, agrega para si públicos que pensam de formas totalmente distintas - desde "fascistas" capazes até de defender a pura e simples destruição das favelas e que vibram com a ação do Capitão Nasciomento no filme, até uma massa que odeia a truculência de uma polícia que tortura primeiro e pergunta depois, e que ficou tão abismada e revoltada com a realidade exibida pelo filme quanto "fascistas" ficariam eufóricos e vibrantes.

"Ônibus 174", em termos de público, era limitado: só agradava verdadeiramente uma parcela da população que tinha visões ideológicas próximas daquelas exibidas no filme. "Tropa de Elite" faz uma evolução mercadológica ao escapar de tal limitação, agregando um público consideravalmente maior, cujo interesse é alimentado pela própria polêmica ambígua criada sobre a obra.



Pedro Mancini

Replanejamento

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Percebi que a presente extrutura desse blog deve ser alterada. Já notei que, ao mesmo tempo em que tenho publicado com um intervalo longo demais (com tendência pífia a chegar a apenas uma publicação por mês), os temas tratados acabam fugindo das preocupações mais atuais presentes na boca do povo.


É claro que não pretendo abrir mão de escrever sobre aquilo que me dá na telha, sendo em consonância com as notícias mais atuais ou não. Mas acho que a forma de publicação em que me apaguei é insuficiente para manter um blog minimamente interessante.


Dito isso, tentarei, a partir de hoje, cumprir uma meta mensal de publicação, em que estarão inseridas diversas FORMAS de realização de tal tarefa. Assim, manterei as análises temáticas (nos moldes das que foram feitas até aqui - sobre Hugo Cháves, a Globo e o filme "Beleza Americana"), mas pretendo incluir comentários mais abreviados sobre as notícias que assolam o mundo na atualidade. Ademais, almejo reavaliar minha atuação nesse blog de forma pública e casual, ao menos uma vez ao mês, e, esporadicamente (talvez uma vez a cada dois meses), publicar humildes resumos críticos sobre obras de autores do mundo acadêmico que me dispertaram certa paixão - sentimento que tentarei transmitir, em algum grau, aos meus escassos leitores.

Segue, então, uma esquematização mais "direta" sobre minha nova meta de publicação mensal:


- 1 vez ao mês: Análise sobre temas específicos;


- 1 vez ao mês: Auto-avaliações de minha atuação nesse blog e comentários sobre minha evolução pessoal;


- 2 vezes ao mês (a princípio): Comentários "curtos" sobre notícias da atualidade;


- 1 vez a cada dois meses: Análises críticas e breves sobre obras acadêmicas de meu interesse, assim como seus respectivos autores, de áreas acadêmicas diversas.






Pedro Mancini

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O dilema do "ditador bondoso"

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O governo do venezuelano Hugo Chávez vêm pondo à tona uma problemática que já infligiu a humanidade muitas e muitas vezes - e que, atualmente, tem assombrado os agrupamentos de esquerda, em especial da América Latina.

É sabido que grande parte desse movimento esquerdista - e eu me incluo nesse pacote - se viu bastante empolgada com a ascensão democrática do coronel ao poder da Venezuela, bem como com suas políticas governamentais inclusivas e participativas que afetaram as classes menos favorecidas de seu país - medidas essas financiadas pelos recursos captados graças à intervenção do presidente venezuelano na indústria nacional de exploração petrolífera que, diga-se de passagem, há tempos agia como reprodutora da desigualdade, beneficiando diretamente a elite econômica daquele país. De modo silimar, comemoramos enormemente o fracasso do golpe de 2002 contra Hugo Chávez, em um acontecimento-relâmpago de dois dias em que um agrupamento reacionário, fortemente prejudicado com a intervenção estatal na indústria petrolífera, raptou o presidente e divulgou, através de todo aparato da mídia privada - que militava a favor dos golpistas - que o mesmo havia renunciado ao poder. O venezuelano voltou ao seu posto de direito quando a massa descobriu a fraude e exigiu seu retornou imediato.

Como parte considerável da esquerda pró-chavista, no entando, fiquei desconfiado (e fortemente decepcionado) quando o presidente tentou aprovar um pacote de medidas diversas, em que se destacava a tentativa de reprodução ilimitada de seu poder - se tais medidas fossem aprovadas, Chávez passaria a deter o privilégio de ser reeleito inúmeras vezes.

São iniciativas como essa que fazem com que a esquerda perca, historicamente, sua compostura: ações que, somadas, revelam sua pretenção em existir como a única personagem política em jogo. Considerando a pureza de seus ideais como "óbvia" perante os olhos das classes menos favorecidas, forças políticas de esquerda, ao assumirem o poder, impõem sua visão (específica) como a única aceitável (geral) para toda a sociedade que comandam - da mesma forma que os seus rivais, sejam eles liberais ou conservadores. Por meio de diversas táticas, que, no extremo, significam a morte pura e simples da democracia, essa esquerda, assumindo papel similar ao do Deus cristão que, já que naturalmente "bondoso", não aceita crítica ou rebeldia, acaba sendo capaz de desenvolver seu próprio antagonismo - criando, aos poucos, uma sociedade que, ao invés de se pautar no combate às desigualdades e injustiças sociais, apenas as fundamentam a partir de uma nova lógica. Privilegia-se, aqui, a igualdade social-econômica, mas não sem graves prejuízos à igualdade e à liberdade político-individuais.

Foi esse o processo que assolou inúmeros países, como a extinta União Soviética e seus aliados, e que, vez ou outra, ameaça se repetir em nações de diversas partes do globo - e a América Latina é um dos locais mais suscetíveis a esse fenômeno. No momento, esse risco aparece como iminente em figuras como a de Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia.

Mais uma vez, contudo, é importante salientar que as críticas não se referem ao caráter social de tais governos - ao combate, por exemplo, a determinados modos de propriedade privada - e nem ao conteúdo ideológico por si dos referidos regimes; mas sim à relação estabelecida entre o Estado e a população governada: uma relação pautada pelo clientelismo, pelo populismo e por um exclusivismo arrogante da esquerda - características essas capazes de resultar no mais pleno suicídio de suas intenções igualitárias, como já indiquei. Mais grave que isso, tal relação resulta em perdas incalculáveis para a autonomia dos indivíduos - que passam, no final das contas, de "clientes" do Estado (como nas relações típicas do neoliberalismo) à condição de "apadrinhados" ou "filhos" deste, recebendo benefícios não por terem pleno direito a eles, mas como mero favor concedido por uma instituição que se encontra acima da sociedade, e não a serviço da mesma.

É essa a lição que a esquerda - em especial, na América Latina - deve aprender: não existem "ditadores bondosos", mas apenas ditadores; e o que os define, pura e simplesmente, é o seu desprezo pela capacidade de auto-determinação dos homens do povo, de desenvolvimento de seu raciocínio e pela prática de seu livre-arbítrio de forma livre. Para esses líderes, a liberdade individual não deve ser estimulada - pois resultaria, obviamente, em fracassos de massa; os pontos de vista plausíveis, sob tal ótica, devem ser sempre impostos de fora, e nunca desenvolvidos pela sociedade civil de forma minimamente expontânea.


O conceito de "heteronomia" - "regra obtida de fora" - serve de substituto, aqui, à noção de "autonomia" - "regra obtida por si só", pelo próprio indivíduo, idéia-chave para uma compreensão desse fenômeno.

Recria-se, dessa forma, o fanático seguidor cristão que enxerga a autonomia de pensamento, o "pensar diferente", uma "coisa do demo" - e deve aceitar, cegamente, sem contestação, aquilo que foi imposto por seu Senhor (sob a pena de ser visto como, na melhor das hipóteses, marionete inocente de Satã, e, na pior, um cúmplice consciente do mesmo).

Por essa razão, a tolerância com forças reacionárias - como, por exemplo, gigantescas parcelas da mídia -, embora difícil, deve sempre ser mantida por qualquer governo que se diga preocupado com justiça social sob uma perspectiva verdadeiramente humana; não só para que não se desça ao nível de uma parcela política constantemente golpista e autoriária, mas simplesmente porque, se um dia habitaremos um mundo em que exista um grau mínimo aceitável de igualdade e justiça, essa situação, segundo minha perspectiva, não poderá se manter sem uma saudável diversidade política, ligada à dedicação integral pelo desenvolvimento da autonomia individual; autonomia essa que nos faz, afinal de contas, HUMANOS - para além da simples noção de servos de algum senhor benevolente qualquer, seja ele encarnado na figura de Deus, de um Presidente ou, de forma mais ampla, de um Estado burocrático tão acolhedor quanto intolerante com qualquer forma de pensamento independente.

Pedro Mancini

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A política global de "Amor, Estranho Amor"

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Segue, abaixo, a coluna de hoje de Sérgio Ripardo, editor de Folha Ilustrada da Folha Online, sobre a oitava versão do reality-show "BBB":



"A Globo evitou riscos na escalação dos 14 participantes da oitava edição do 'Big Brother Brasil', que começa na próxima terça-feira. Com base na divulgação das imagens e dos dados sobre os escolhidos, será, mais uma vez, um programa voltado para o erotismo barato.


Para vender a assinatura do programa na TV fechada, a Net escancara o espírito do reality show: o telespectador terá compactos de cenas de banho, barracos e os melhores closes nos corpos de sarados e gostosas.


Não é de se espantar a repetição do formato. A história da Globo mostra que, em momentos de crise no ibope, a baixaria é a fórmula mais adotada pelo canal para reagir, estimulando aquilo que os comunicólogos chamam de 'cultura do grotesco'.


Em 2007, a Globo perdeu espaço para a Record, que também não é santa e vive injetando doses de erotismo em sua programação --cenas de sexo e violência enchem, por exemplo, as novelas do canal dos bispos.


A seleção do 'BBB 8' descartou os elementos que possam, na visão da Globo, atrapalhar o cenário para o onanismo eletrônico. Nada de gente feia, gorda nem pobre à beira da piscina, lembrando que o Brasil é uma terra de mestiços, assalariados e gente fora dos padrões de estética ditados pela publicidade.


Talvez, o 'gênio' e diretor do programa Boninho --aquele que se deixa flagrar em vídeo confessando o esporte de jogar ovos em prostitutas-- merecesse uma resposta contundente do telespectador esclarecido. Desligue a TV."


Tais eventos servem, sempre, para mostrar a verdadeira face da Rede Globo, constantemente camuflada pela imagem com a qual procura se associar. Ao contrário da emissora de Sílvio Santos, que nunca escondeu seu caráter "brega", exibindo o velho seriado mexicano "Chávez" por anos a fio e novelas melancólicas vindas do mesmo país com nomes esdrúxulos como "Alegrifes e Rabujos", "Rubi" e "Poucas, poucas pulgas", a emissora do falecido barão Roberto Marinho sempre cultivou uma dissociação entre sua imagem e sua atuação prática. Essa dissociação alcançou patamares ainda mais elevados, talvez, nos dias de hoje - e alguns nomes importantes da emissora me ajudam nessa constatação: A apresentadora Xuxa, a dita "Rainha dos Baixinhos", que hoje posa de moralista "zen" em seu programa matinal, já fez um filme "caliente" com um garoto de 12 anos (que hoje daria um bom processo de pedofilia contra qualquer outro que se arriscasse a fazer o mesmo); e, nos programas matinais de ontem, abria as pernas em rede nacional, para a alegria dos pais dos baixinhos, em meio a sessões diárias de ginástica, ao lado das oxigenadas paquitas - que tocavam o barco da artificalidade da televisão brasileira, ao promoverem o comum estereótipo da "loira de olhos azuis" em um país de mestiços. Como em tantas outras ocasiões, a emissora, por meio de sua velha contratada Xuxa, apagou - ou pelo menos tentou, e teria conseguido, caso não existisse a internet - o passado, tirando o filme proibido de circulação ("Amor, Estranho Amor", que criou o nome da atual postagem).



Jô Soares, outro símbolo global, detém a imagem de intelectual, sendo, no entando, responsável por algumas pérolas muito bem camufladas por seu pedantismo e seu cenário "cool", copiado de um programa americano do gênero; só para citar dois exemplos banais, disse que a capital ucraniana Kíev fica na Rússia e que Antônio e Flávio foram nomes de dois imperadores romanos. Ora, se o simpático gordinho da Globo disse, está dito, não?



Com relação à saúde e aos indissociáveis cuidados com a sexualidade, a emissora não age de forma distinta: do mesmo modo que divulga, através da figura respeitável de Dráuzio Varella, formas de cuidado com a saúde, prega a irresponsabilidade da sexualidade descompromissada em suas novelas (como, é claro, faz sua concorrente direta, a rede do Bispo Edir Macedo) e em seus reality-shows como o BBB. O que reina, afinal, antes de qualquer preocupação com o bem-estar da população, são os interesses econômicos desse grande símbolo do capitalismo contemporâneo - a busca incessante pela audiência e pelo lucro correspondente.



Quanto à sua participação política, a característica ambígua da Globo se manifesta de um modo peculiar: procura estar do lado do governo vigente, mas sem perder de todo sua linha-mestra de raciocínio político-econômico. Sempre voltada aos interesses macro-econômicos dos Estados Unidos e de seu liberalismo, seria ingenuidade achar que defenderia um modelo de sociedade interamente voltado aos interesses nacionais, principalmente quando estes contrariam os interesses dos grandes conglomerados econômicos - do qual ela própria é participante. No final, portanto, a emissora é fiel apenas a si própria, sendo capaz de efetivar as mais condenáveis alianças para manter sua importância cultural. Assim, embora tenha se formado e nutrido em meio ao regime militar, cuidando, inclusive, de sua manutenção ao esconder o caráter autoritário de tal regime (como quando divulgou que o comício organizado em São Paulo pela democratização do país era nada mais do que uma "festa popular"), a emissora não tardou a disparar críticas ferrenhas aos governos militares após a redemocratização do país - por meio, por exemplo, de uma reportagem do "Globo Repórter" que condenou a tentativa terrorista alavancada pelos militares no episódio Rio-Centro (que pretendia culpabilizar os militantes comunistas e reimplantar os momentos mais negros da ditadura militarista brasileira). Para melhores informações, os leitores poderiam assistir o documentário inglês feito sobre o assunto, intitulado "Beyond Citizen Kane" - o que seria muito mais fácil caso a emissora de Xuxa não tivesse, mais uma vez, procurado apagar o passado ao proibir a circulação oficial de tal filme.



Essa á a Rede Globo. Posando de inovadora e intelectual, é monocromática e retrógada; parecendo moralista, age despreocupada com a "moral" vigente, ao exibir, com frequência, verdadeiros shows de erotismo em pleno horário nobre(vide as novelas das 6, 7 e 8); dizendo-se voltada para o Brasil, inclina-se à realidade exterior dos Estados Unidos e da Europa (ao pior de cada um, em verdade), copiando descaradamente seus programas e suas perspectivas sociais e políticas sem demonstrar qualquer potencial crítico verdadeiramente autônomo.



A despeito desse verdadeiro show de hipocrisia, a Globo detém forte audiência, embora declinante. O fato é que, queiramos ou não, nós adoramos a hipocrisia. Somos, cada um de nós, minimamente responsáveis pela sobrevivência de aparatos hipócritas como esse - que, jogando a sujeira por debaixo do tapete, fazem a casa brasileira parecer limpa e "chique" como na casa de um herói da novela das 8.





Pedro Mancini