domingo, 17 de junho de 2012

Morte e desencantamento na FFLCH: Sobre o falecimento do Prof. Antônio Flávio Pierucci

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Essa semana foi celebrada a missa de sétimo dia do falecimento de um grande professor (em que fiquei muito triste por estar impossibilitado de comparecer) - Antônio Flávio Pierucci,  um dos maiores especialistas em Sociologia da Religião e na obra de Max Weber que o Brasil já produziu. Mas não estou aqui para falar dos feitos acadêmicos do excelente professor e pesquisador Pierucci; e sim de suas qualidades pessoais.

Mas quem sou eu para falar alguma coisa, poderia-se pensar? Conhecia ele mais do que vários de meus colegas de faculdade, que cursaram a graduação tendo a honra de assistir as suas aulas descontraídas, apesar de extremamente enriquecedoras? Não. Não sou ninguém notadamente especial entre o círculo de amizades de Pierucci: apenas MAIS UM aluno que ele conhecia pelo nome e comprimentava pelos corredores da faculdade com boa vontade e transparência raras e invejáveis. Não apenas lembrava meu nome anos após uma participação em seu curso de Sociologia IV, como lembrava das conversas que havíamos tido àquela época. E isso, não tenho dúvidas, ocorreu com inúmeros colegas de curso.

A maior virtude de Flávio Pierucci, para mim, não estava em sua produção acadêmica - que, não me entendam mal, é indiscutivelmente importantíssima, mas que já foi destacada pelos usuais veículos de comunicação, embora ainda superficialmente. Sua maior qualidade encontrava-se por detrás do pesquisador e professor: seu lado humano, desapegado às relações burocrático-informais que permeiam um ambiente como aquele que frequentava até muito recentemente: os corredores da Universidade. Em um local em que somos "apenas mais um aluno", com um número de matrícula que nos posiciona em uma massa de milhares de matrículas, e em que nos encontramos na mais baixa posição hierárquica da rígida estratificação universitária, Pierucci possuía a habilidade inata de romper as barreiras estatutárias e apresentar-se como um ser humano para seus alunos, para além de um "simples" reprodudor de conhecimentos teóricos. Aproximava-se de cada um de nós como um colega pessoal, e não como um ser que vive em um inviolável Monte Olimpo, pairando sobre nossas cabeças. Tinha o dom de fazer cada um entre centenas de alunos se sentir um pouco mais especial, um pouco mais do que um mero número de matrícula em uma comunidade acadêmica altamente burocratizada (burocracia essa habilmente tematizada pelo estudioso em que Pierucci mais se especializou, o velho Max Weber). Não era o único professor a deter esse dom - tive a sorte de me relacionar com uma orientadora com qualidades semelhantes - mas era um dos poucos, e daqueles que o faziam de modo mais hábil e natural.

Pierucci, enfim, era um dos poucos professores que conheci que eram capazes, naturalmente, de encantar um pouco esse desencantado, altamente racionalizado, universo acadêmico. A FFLCH acordou um pouco mais desencantada no mês de junho de 2012.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Escapes despretenciosos

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Aaaah... nada como uma boa desculpa para voltar a escrever. Obviamente, não faltaram pautas e questões polêmicas para fomentar o debate nesse blog: mas, como uma própria vítima da sociedade contemporêna que tanto gosto de estudar, não encontrava condições emocionais e práticas (tempo, resposabilidades profissionais e acadêmicas) para sentar a poupança e deixar fluir minhas opiniões publicamente.

Mas o problema não está, exatamente, no fato de não conseguir escrever em si mesmo, mas na culpa que é derivada dessa impossibilidade - e na ansiedade diante dessas dificuldades.Sintomas típicos de nossa sociedade, como comprovado pela difusão extrema de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos...(de eficácia real contestável, para piorar.)(Para quem quiser algumas fontes: Portal R7  e Rede Brasil Atual). 


Em diversas ocasiões, estimularam-me a voltar a escrever... e eu mesmo sinto muita falta desse hábito. Mas simplesmente não conseguia cumprí-lo, e isso gerava - ainda gera - um grande peso na alma. Uma dor que não é menor do que aquela gerada quando não cumpro qualquer responsabilidade cotidiana: quando não trabalho "como deveria", não estudo "como deveria", e até... "não me divirto como deveria"!!!!

Ora, e então entramos na seguinte questão: será que TUDO virou motivo de estresse e culpa, de modo que mesmo uma atividade (em tese) prazerosa, que deveria acalmar o espírito, adquire conotações de um "dever" que, em meio às exaustivas demandas profissionais e acadêmicas, gera um grande mal estar quando não  devidamente cumprida? Há, afinal, um escape REAL para o estresse ocasionado por esse estilinho de  vida típico do paulistano, caracterizado por uma dissolução quase completa da distinção entre dever e lazer, público e privado, desejo e obrigação? Será que nossas formas de "resistência", como um horariozinho de isolamento e de atividades "fora de pauta" (caminhadas, meditações, práticas de yoga, entre outras dezenas, centenas ou milhares de opções que mais confundem que nos orientam) não se convertem, sem notarmos, em mais uma linha de nossas intermináveis listas de deveres cotidianos? Se sim, trata-se de uma resistência de fato ou da mera colonização de nosso íntimo pela lógica da produtividade?

Bom, desabafos à parte, voltemos à questão principal: como e porque escrever agora nesse blog , após vários meses de. abandono? Depois de tantas promessas (aos outros e a mim mesmo) de voltar a expressar minhas ideias, como nasce a possibilidade de redigir nesse momento específico? Estaria eu com mais tempo livre? DEFINITIVAMENTE, NÃO!!!! Nunca tive tantas responsabilidades com outros - chefes e alunos - quanto atualmente. Tenho certeza que, se um aluno vir minha produção recente, se questionará: "mas como diabos esse sujeito não corrigiu minha lição e tem tempo para escrever em um blog"? Bem, meus caros, ocorre que eu notei as falhas desse modo de pensar e restaurei uma máxima que costumava repetir a conhecidos: "quanto menos tempo temos, mais tempo arranjamos". E percebi que válvulas de escape - por mais imperfeitas que sejam - são indispensáveis nos dias de hoje. Sem objetivos, sem metas, sem ocupar linhas de uma lista de tarefas: um escape de mentalidade. 

É claro que isso parece meio banal, a princípio; mas se existe algo (entre muitas outras coisas) que aprendi nos últimos dias, é que sabermos CONSCIENTE e RACIONALMENTE de algo é BEM diferente da capacidade de SENTIRMOS esse algo, digerindo-o de fato, apropriando-se de sua essência, internalizando algum conhecimento. Comigo, algo do tipo de passou com minha percepção sobre como entendia o "lazer": no fundo, via-o como mais uma obrigação a cumprir - o que, ironicamente, acabava por distituir as atividades em questão de qualquer caráter "prazeroso" mais profundo (alguns chamariam o "prazer" restante dessas atividades, de caráter totalmente superficial, simplesmente de "gozo" - em seu sentido psicanalítico.) 

Além de ter notado essa diferença entre a razão superficial e a compreensão "sentimental", por assim dizer, de coisas que nosso lado racional já "sabe", comecei a encontrar - após muita procura - ferramentas adequadas para viabilizar a criação de espaços REAIS para que minhas válvulas de escape das agitações cotidianas funcionem livremente, sem entupimentos, permitindo que meus vapores de estresse sejam (minimamemte) liberados ao vento....

Mas quais ferramentas seriam essas, e por quanto tempo surtirão efeito (e em que medida), são assuntos para as possíveis próximas postagens... afinal, não tenho mais interesse em verborragias intermináveis em meu humilde, mas sincero blog.

Pedro Mancini