terça-feira, 14 de setembro de 2010

Impressões sobre o último debate e o "espírito democrático" de José Serra

Publico, com algum atraso, minhas impressões sobre o último debate entre candidatos à Presidência da República, realizado dia 12 de setembro pela RedeTV! e Folha de SP.

Como comentou Luis Nassif em tempo real, via Tweetcam, o debate simbolizou o fim melancólico da campanha de José Serra. O tucano insistiu na tecla da violação do sigilo fiscal de sua filha e outras acusações, sem tentar convencer o eleitor de que possui propostas concretas para administrar o país. Ao contrário do que a mídia noticiou, a estratégia de Serra foi um fracasso: nos primeiros blocos, ele ficou totalmente isolado, ninguém entrou em sua onda (a não ser alguns jornalistas), e acabou levando uma "sapatada" até do Plínio (que afirmou não ter "nada a ver" com as denúncias do Tucano e lamentou que o mesmo tenha baixado tanto o nível da campanha, alegando, com razão, que deveriam estar discutindo propostas políticas concretas). Sua posição, no atual quadro político, apenas ficou mais confusa para o eleitor - já que o candidato vive alternando ataques de fúria e elogios à administração petista, em uma tentativa malabarista de manter os ataques atrelados à figura de Dilma, poupando o presidente, e mantendo os elogios à Lula, desconsiderando Dilma.

Não que a candidata do PT ou mesmo Marina Silva tenham se destacado positivamente: o Serra é que foi muito infeliz. Aliás, o momento mais patético do debate foi quando ele insistiu ser um "democrata", que "respeita seus adversários políticos", insinuando que a petista não o faria. Bem, não precisamos nem discutir os bastidores da política, os afastamentos de jornalistas desfavoráveis a Serra, para contestar essas afirmações: seu jeitinho "trator", anti-democrático e de desrespeito por opiniões contrárias e pela oposição tem sido muito evidente. Vejamos apenas alguns exemplos se sua postura pública:

1) Pela primeira vez desde o Regime Militar, o tucano escolheu, para reitor da USP, um candidato que não foi escolhido como preferido pela própria Universidade, desrespeitando essa chamada "democracia" que diz valorizar;
2) Já demonstrou, inúmeras vezes, desrespeito com jornalistas, quando questionado, sempre buscando desmoralizá-los e associá-los à "vil oposição". Vejamos alguns vídeos do YouTube:









3) Em inúmeros casos, Serra demonstrou intolerância absoluta com movimentos sociais e grevistas, associando-os à uma oposição "malévola", vista como fonte de intrigas e "inimiga do povo": um total desrespeito tanto com as reivindicações dos funcionários públicos do Estado de São Paulo, quanto com a própria oposição. Como exemplo, cito o caso da greve da Polícia Civil, que acarretou em um conflito sério com a Polícia Militar nas ruas de São Paulo, mais uma vez fruto da incapacidade de diálogo do tucano. Na época, Serra saiu no Datena responsabilizando o PT e centrais sindicais partidarizadas pelo confronto, como se a polícia nem tivesse motivos para fazer reivindicações e movimentos de greve. Cheguei a publicar uma postagem a respeito desse episódio, mas infelizmente não localizei o vídeo de Serra no Datena.
4) Mostrou desrespeito, igualmente, com seus críticos da Internet, classificando todos os seus blogs opositores como "blogs sujos" (vale lembrar que, ao mesmo tempo, o PSDB se apropria das ferramentas da internet a seu favor, mandando seus simpatizantes, por exemplo, votarem em massa em seu candidato como o "melhor do debate" logo após esses eventos). Desqueaifica os opositores, simplesmente vinculando-os a interesses partidários e eleitorais.

Não venham, portanto, me dizer que Serra possui qualquer "espírito democrático" ou que "respeita a oposição", não tratando-a como "inimiga do país"!

 Em resumo, José Serra demonstrou mais uma vez, no debate, uma enorme hipocrisia; até aí, contudo, muitos políticos o fazem, inclusive os demais presentes. Mas a manutenção de sua postura agressiva mostrou, mais do que nunca, seu desespero perante o quadro eleitoral, em que sua campanha falha redondamente em se apresentar como uma alternativa concreta ao governo atual  ao público eleitor. Nem mesmo em seu reduto político, São Paulo, Serra conseguiu manter a dianteira. Desmoralizado, resignou-se a ataques baixos, utilizando a violação do sigilo de sua filha para tentar desestabilizar a candidatura petista.De fato, um fim que beira entre o melancólico e o repugnante.

Pedro Mancini 

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