sexta-feira, 8 de junho de 2012

Escapes despretenciosos


Aaaah... nada como uma boa desculpa para voltar a escrever. Obviamente, não faltaram pautas e questões polêmicas para fomentar o debate nesse blog: mas, como uma própria vítima da sociedade contemporêna que tanto gosto de estudar, não encontrava condições emocionais e práticas (tempo, resposabilidades profissionais e acadêmicas) para sentar a poupança e deixar fluir minhas opiniões publicamente.

Mas o problema não está, exatamente, no fato de não conseguir escrever em si mesmo, mas na culpa que é derivada dessa impossibilidade - e na ansiedade diante dessas dificuldades.Sintomas típicos de nossa sociedade, como comprovado pela difusão extrema de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos...(de eficácia real contestável, para piorar.)(Para quem quiser algumas fontes: Portal R7  e Rede Brasil Atual). 


Em diversas ocasiões, estimularam-me a voltar a escrever... e eu mesmo sinto muita falta desse hábito. Mas simplesmente não conseguia cumprí-lo, e isso gerava - ainda gera - um grande peso na alma. Uma dor que não é menor do que aquela gerada quando não cumpro qualquer responsabilidade cotidiana: quando não trabalho "como deveria", não estudo "como deveria", e até... "não me divirto como deveria"!!!!

Ora, e então entramos na seguinte questão: será que TUDO virou motivo de estresse e culpa, de modo que mesmo uma atividade (em tese) prazerosa, que deveria acalmar o espírito, adquire conotações de um "dever" que, em meio às exaustivas demandas profissionais e acadêmicas, gera um grande mal estar quando não  devidamente cumprida? Há, afinal, um escape REAL para o estresse ocasionado por esse estilinho de  vida típico do paulistano, caracterizado por uma dissolução quase completa da distinção entre dever e lazer, público e privado, desejo e obrigação? Será que nossas formas de "resistência", como um horariozinho de isolamento e de atividades "fora de pauta" (caminhadas, meditações, práticas de yoga, entre outras dezenas, centenas ou milhares de opções que mais confundem que nos orientam) não se convertem, sem notarmos, em mais uma linha de nossas intermináveis listas de deveres cotidianos? Se sim, trata-se de uma resistência de fato ou da mera colonização de nosso íntimo pela lógica da produtividade?

Bom, desabafos à parte, voltemos à questão principal: como e porque escrever agora nesse blog , após vários meses de. abandono? Depois de tantas promessas (aos outros e a mim mesmo) de voltar a expressar minhas ideias, como nasce a possibilidade de redigir nesse momento específico? Estaria eu com mais tempo livre? DEFINITIVAMENTE, NÃO!!!! Nunca tive tantas responsabilidades com outros - chefes e alunos - quanto atualmente. Tenho certeza que, se um aluno vir minha produção recente, se questionará: "mas como diabos esse sujeito não corrigiu minha lição e tem tempo para escrever em um blog"? Bem, meus caros, ocorre que eu notei as falhas desse modo de pensar e restaurei uma máxima que costumava repetir a conhecidos: "quanto menos tempo temos, mais tempo arranjamos". E percebi que válvulas de escape - por mais imperfeitas que sejam - são indispensáveis nos dias de hoje. Sem objetivos, sem metas, sem ocupar linhas de uma lista de tarefas: um escape de mentalidade. 

É claro que isso parece meio banal, a princípio; mas se existe algo (entre muitas outras coisas) que aprendi nos últimos dias, é que sabermos CONSCIENTE e RACIONALMENTE de algo é BEM diferente da capacidade de SENTIRMOS esse algo, digerindo-o de fato, apropriando-se de sua essência, internalizando algum conhecimento. Comigo, algo do tipo de passou com minha percepção sobre como entendia o "lazer": no fundo, via-o como mais uma obrigação a cumprir - o que, ironicamente, acabava por distituir as atividades em questão de qualquer caráter "prazeroso" mais profundo (alguns chamariam o "prazer" restante dessas atividades, de caráter totalmente superficial, simplesmente de "gozo" - em seu sentido psicanalítico.) 

Além de ter notado essa diferença entre a razão superficial e a compreensão "sentimental", por assim dizer, de coisas que nosso lado racional já "sabe", comecei a encontrar - após muita procura - ferramentas adequadas para viabilizar a criação de espaços REAIS para que minhas válvulas de escape das agitações cotidianas funcionem livremente, sem entupimentos, permitindo que meus vapores de estresse sejam (minimamemte) liberados ao vento....

Mas quais ferramentas seriam essas, e por quanto tempo surtirão efeito (e em que medida), são assuntos para as possíveis próximas postagens... afinal, não tenho mais interesse em verborragias intermináveis em meu humilde, mas sincero blog.

Pedro Mancini

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