sábado, 20 de março de 2010

Big Brother e os machismos camuflados de cada dia

Pois é. Com tantos assuntos dignos de comentário nessa semana, como o trágico assassinato de Glauco e as representações sociais criadas para compreender a mente de seu assassino, escolhi discutir as banalidades do "espetaculoso" Big Brother Brasil. Isso porque percebi uma série de mensagens machistas camufladas em alguns de seus acontecimentos mais... "importantes".

Como bem sabe quem me conhece, não costumo assistir ao BBB - embora, impossível negar, sempre tento me manter informado, de forma indireta, das maiores polêmicas por ele geradas, como um interessado crítico da sociedade contemporânea. É óbvio que se trata de uma fonte riquíssima de fatos e representações reveladoreas de nossa sociedade. 

Atualmente, foi bastante difundido o caso do preconceito sexual inculcado em um tal de Dourado e em meio a sua torcida pessoal. Mas esse rapaz é um alvo fácil demais... até Pedro Bial já percebeu sua óbvia homofobia,  expressa, entre outras declarações, pela brilhante constatação de que "apenas gays contraem AIDS". Como disse, não quero chutar alguém que já está sendo tão linchado (e, ao mesmo tempo, tão defendido por homofóbicos de toda espécie).

Ao invés disso, reflito a respeito de demonstrações menos óbvias, mais cínicas e disseminadas de machismo no programa televisivo. O que me chamou a atenção para essa abordagem, em especial, foi a provocadora capa da nova edição da Revista Playboy, mostrando a ex-BBB Tessália com o rosto molhado, em uma clara apologia à sua "atuação" no Big Brother. Para quem não sabe, a garota ficou marcada (e muitos a isso atribuem sua saída do BBB) por, supostamente, praticar sexo oral em seu companheiro de casa, o também ex-BBB Michel, por baixo dos lençóis. 


A partir desse momento, a figura da Tessália passou a ser automaticamente associada a "boquete", a ponto de "fazer uma Tessália" se tornar um sinônimo bem humorado de tal prática. Como se não bastasse, ela ficou MAL VISTA por alegrar o seu colega, enquanto o último, pelo pouco que vi durante sua eliminação, ficou marcado apenas como um "grande amigo" do BBB. Em nossa sociedade machista, afinal de contas, o homem que "recebe" prazeres de uma mulher é um "fodão" ou um sortudo, enquando a mulher que fornece tais prazeres (mais ainda por tê-lo feito em rede nacional), é simplesmente uma vagabunda.

E isso tudo, apesar de Michel, o "sortudo" haver traído sua namorada fora do BBB, enquanto Tessália era SOLTEIRA fora da casa - logo, não devendo fidelidade a ninguém de fora. Como é possível notar, tais circunstâncias não fizeram muita diferença na hora de associá-la à figura de puta boqueteira, enquanto, por sua vez, não fez com que Michel fosse associado à figura de um traidor ou um "puto".

Por fim, ainda assistindo à eliminação do "sortudo" Michel, o "amigão", também notei o machismo do próprio Bial, que logo contou ao primeiro que sua namorada, nada contente com a traição de seu parceiro, "não tardou a posar semi-nua para uma revista". Ora, o tom de voz de Bial deixou bem claro, ao menos para minha cabecinha poluída, o seu desprezo pela atuação dessa ex-namorada, vista como "aproveitadora" da situação de traição de seu namorado.

Mais uma vez, só a mulher é vista como puta barata, traidora, vulgar, etc. O garotão é visto como "vítima" de uma namorada que não só não o compreendia, como, no fundo, era uma "vagabunda" em busca de fama e fortuna. Ora, e o que seria Michel, recebendo boquete de uma colega de casa, com sua namorada do lado de fora, possivelmente assistindo a cena em pay-per-view????

Para piorar mais ainda, o fato de as próprias vítimas se aproveitarem de sua má fama para cultivar sucesso faz com que os machistas em geral justifiquem sua posição. Isso vale tanto para Tessália, que aceitou explorar sua fama de boqueteira na Playboy, quanto para outros casos, como a da "Geyse da Uniban" - cuja super exposição posterior, na mídia, só serviu para que os machistas que as xingaram na faculdade dissessem, orgulhosos: "Tá vendo?? Olha só como ela realmente é uma puta!!!""

Bem, embora eu discorde que mulheres como Tessália e Geyse decidam encaixar-se no estereótipo para elas criado, passando, aos olhos do público, a se reduzirem às suas ações mais polêmicas, isso não pode ser utilizado, de forma alguma, para justificar qualquer espécie de machismo. Uma mulher tem todo o direito de transar ou de se vestir como queira, dentro de limites extremamente flexíveis, e isso não deve contar para definir toda a sua personalidade, reduzindo-a a um estereótipo vulgar.

Pedro Mancini


3 comentários:

Mariana Thibes disse...

Concordo e assino embaixo!

Luiz "o Mediano" disse...

Essa postagem me leva a um filme espanhol que assisti: "Diário de uma ninfomaníaca" que só afirmou para mim uma verdade, a de que pertence à mulher o direito de "dar" e "receber" a vontade, uma vez que a mulher (ou boa parte delas pelo menos) só conseguem ter uma relação sexual prazerosa quando uma série de fatores: emocionais, físicos e psicológicos se unem para compor a atmosfera do prazer feminino. Em contra partida, é sabido que para um homem, só é preciso um pouco de imaginação e um pouco de estímulo físico localizado para alcançar o mesmo prazer. Por este motivo, acho que as mulheres devem sim, partir para o ataque e ousar. Claro que não aprovo a tal da Geyse, dizer que ela se veste como puta é um insulto às garotas de programa, que bastando uma ligeira passagem pela Av. Indianópolis, poderemos notar que as MULHERES, estão usando roupas justas sim, mas nada como uma saia que fica 5cm abaixo da virilha, sendo que muitas inclusive trajam calças, mas a sociedade é hipócrita demais para olhar, prefere virar a cara pra não ver, principalmente as mulheres que desviam o olhar exclamando que vender o corpo é um absurdo, mas provavelmente, desejando em seu âmago, um belo orgasmo ao menos uma vez na vida.

Unknown disse...

Obrigado pelos comentários, Mariana e Luiz!