sábado, 2 de novembro de 2013

Viagem ao Peru, 2a parte: Nada menos do que caos


       Admito que fui abatido pelo primeiro dia de viagem. A chateação começou assim que desci do avião de São Paulo para Lima, após uma viagem bem sossegada, que havia me trazido boas impressões sobre a companhia Taca – pelo que entendi, recentemente adquirida pela Avianca. Os fones de ouvido distribuídos eram bem modernosos, o lanche era gostoso, e o atendimento, em geral, foi muito bom. Também tive um bom papo com duas senhoras brasileiras que sentavam-se nos assentos ao lado, quando aproveitei para pegar algumas dicas de uma senhora que já estivera no peru: por ela, soube que poderia comprar um remédio em qualquer farmácia do país para amenizar os efeitos da altitude. Sinto-lhes, mas não me recordo do nome do milagroso comprimido, mas todos no Peru devem conhecê-lo. 


       Mas voltemos às minhas frustrações: meus amores pela companhia aérea e pela viagem em si acabaram abruptamente assim que retirei a mala que carregava da esteira do aeroporto local: a mesma havia sido danificada naquilo que mais me chamou a atenção – o cadeado com combinação numérica. Com meu torpe portunhol, reclamei no balcão apropriado; a empresa me ofereceu vinte dólares de compensação. Fiz um chororô por mais, sem sucesso... E foi aí que percebi que a mala foi danificada em mais de um lugar: de algum modo, conseguiram amassar as maciças barras de ferro que permitiam que a alça levantasse. Com isso, me ofereceram mais dez dólares de compensação, como se me fizessem um grande favor. Mas já estava deveras cansado para argumentar e brigar em um país estrangeiro por mais alguns dólares, pouco entendendo daquilio que falavam... e só pude lamentar por quebrar minha promessa de manter a mala intacta, para devolvê-la à amiga que ofereceu-a de tão bom grado. Teria que arcar com o peso de dar-lhe as notícias e fazê-la se arrepender de ter me emprestado o equipamento, apesar de meus compromissos pelo conserto.

       Essa não foi a única frustração que sofri em Lima. Aguardando o embarque para o próximo voo, em direção a Cusco, sofri outro baque: a cinco minutos do embarque, a viagem foi sumariamente cancelada pela companhia. O caos instaurou-se: os passageiros ficaram revoltados com a postura dos funcionários, que alegaram não poder liberar o voo por motivos meteorológicos, enquanto outra empresa aérea local (a Lan) continuava a despachar pessoas para a antiga capital inca. Bate-boca em um espanhol bem rápido e bem nervoso: eu, assim como outros turistas estrangeiros, forçávamos nossos ouvidos e cérebros para compreender ao menos uma parte do que ocorria. Eu conversava com dois casais de brasileiros para compartilhar minha falta de habilidade com a língua local. 

       Na briga que se estendeu por mais de duas horas, a companhia afirmava não ter responsabilidades sobre oa contecimento, enquanto os passageiros mais assertivos exigiam que ela assumisse a parcela que lhe cabia naquele latifúndio e garantisse novas passagens para as próximas horas. Impossibilitado de ajudar na disputa por razões linguísticas, fui mais uma vez obrigado a contar com o Outro para, enfim, ver minha hospedagem em um hotel de Lima assegurada pela companhia, que garantiu novas passagens para Cusco na manhã seguinte. Ok, mais uma noite sem dormir: mas a tranquilidade de que, mais cedo ou mais tarde, alcançaria territórios incas. 
Em comboio, eu e os outros cansados passageiros seguimos para um Hotel numa área relativamente afastada do aeroporto: demoramos mais de meia hora para chegar de van, após muitas horas de confusão. O Hotel era ok – um Hotel-Cassino, na verdade. Mas, a essa altura, não havia mais energia em meu corpo para me aproveitar dessa situação e apostar algumas fichas. Precisava descansar após um dia desastroso, já me conformando em ter perdido preciosas horas de passeio. A lição que fica é: cuidado com as companhias aéreas, SEMPRE. E conte com a possibilidade de passar por atrasos e obstáculos parecidos. 

       De toda forma, o dia estava acabando. E tinha que manter a esperança de que o amanhã traria as alegrias que esperava dessa viagem. Tomei um belo banho de banheira, sabendo que o cansaço me dava pleno aval para aproveitá-lo ao máximo, e comi uma bela refeição no restaurante, servida por um garçom que reconheceu meu óbvio sotaque e elogiou o futebol brasileiro. Claro. Agora, só me restava dormir por dois pares de horas e cruzar os dedos para que o próximo avião conseguisse fazer o que deveria: decolar e pousar. 




PS: Depois dos problemas com nosso voo, descobrimos que mesmo os veículos da Lan tiveram que regressar de Cusco, sem condições de pousar. Também foi difundida a informação de que alguns aviões sobrevoaram a cidade por várias horas até a decisão de retorno para Lima. No final, as condições meteorológicas não eram verdadeiramente favoráveis, e assim permaneceriam por parte da manhã do dia seguinte, como eu estava para descobrir...





Pedro Mancini

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